O ex-ministro da Saúde Correia de Campos defende a continuidade da Maternidade Alfredo da Costa, "nem que seja como forma de pressão" para que seja construído o futuro Hospital Oriental de Lisboa, obra que considera "economicamente vantajosa".
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Em entrevista à agência Lusa a propósito da sua última lição, agendada para sexta-feira, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Correia de Campos não fugiu à polémica que envolve o alegado encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC).
O eurodeputado lamenta que "a melhor maternidade do país, que acumulou o maior conhecimento, que trata aquilo que porventura as outras não podem tratar (partos de alto risco)" tenha de ser "condenada pelo camartelo a encerrar ou a transferir-se provisoriamente para outras instalações".
Para Correia de Campos, a MAC "deve manter-se onde está, quanto mais não seja para funcionar como forma de pressão para o Hospital de Todos-os-Santos [na zona oriental de Lisboa] ser construído".
E não acolhe os argumentos do atual ministro da Saúde, Paulo Macedo, que alega não ter financiamento para construir este hospital - pensado para acolher os hospitais de São José, Santa Marta, Capuchos, Curry Cabral, Dona Estefânia e MAC.
"As rendas dos estabelecimentos que compõem o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) e o desperdício que resulta do facto de estar tudo disperso, incluindo o excesso de camas que resulta da dispersão, são as contas com que deve ser feita esta equação", disse. Para o ex-ministro, "não basta dizer que não há dinheiro".
"A operação de reconverter os diferentes hospitais existentes num só hospital [de Todos-os-Santos] é uma operação economicamente vantajosa, do ponto de vista de custo benefício".
O ex-ministro da Saúde reconhece que a MAC tem "vários problemas imbrincados uns nos outros". Por um lado, "há uma maternidade com um registo histórico fantástico" e com um grande "capital de conhecimento" investido.
Mas, por outro, também existem "dois erros emocionais: ter-se reconstruído a Maternidade Magalhães Coutinho, quando ela teria uma necessidade mais discutível", e "uma grande unidade de saúde materno infantil no São Francisco Xavier".
Estas duas instalações "são boas, mas estão a trabalhar abaixo da sua capacidade", o que "tornou o problema mais complexo e difícil".
Correia de Campos considera que "uma maternidade deve estar cada vez mais integrada num hospital geral", defendendo por isso que a MAC passe para o futuro hospital na zona oriental de Lisboa.
Correia de Campos assume que, enquanto dirigiu a pasta da Saúde, equacionou outras soluções para a MAC. Uma delas foi a sua transferência para o Hospital de Loures, que em 2005 ainda não estava construído, mas já era uma obra assumida.
"Admiti que isso pudesse ser realizado. Isso implicava negociações no âmbito da Parceria Público Privada (PPP), as quais não eram fáceis, pois eram mais condições para impor ao contratante". O projeto não avançou, em parte porque essa também não era a vontade interna na MAC.
Correia de Campos considera que o desmantelamento das equipas da MAC seria "um desastre", pois "o valor mais importante que ali está é a capacidade das equipas".