Os dados recolhidos pelos satélites em órbita podem começar a ser usados por outros setores de atividade além da ciência, como agricultores e engenheiros. A ideia foi defendida no congresso Planeta Vivo 2013, que teve lugar na semana passada, no Reino Unido, e que reuniu mais de dois mil cientistas.
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O Planeta Terra é estudado há anos pelos cientistas que têm em conta os dados recolhidos a partir do espaço. Parâmetros que dizem respeito a condições climatéricas, à composição terrestre, à salinidade do mar podem, assim, ser estimados. Agora, estes mesmos dados podem chegar a outros utilizadores, em contextos sociais e económicos, desde que beneficiem a população mundial. A ideia foi apresentada no congresso Planeta Vivo 2013, que decorreu na semana passada, em Edimburgo.
Setores como a agricultura e a engenharia podem tirar proveito de tais informações. Detalhes sobre a humidade do solo, as marés, as orlas costeiras e a produtividade marinha podem ainda auxiliar na gestão e prevenção de desastres e crimes ambientais.
"Com o satélite 'Sentinela 1', que será lançado no próximo ano, vamos fornecer, por exemplo, dados capturados com radar sobre o afundamento ou levantamento do solo, com a precisão de um milímetro" explicou Rámon Torres, chefe do projeto do satélite "Sentinela 1". Com lançamento planeado para 2014, este será o primeiro satélite de uma série de "Sentinelas" que será colocado em órbita para formar o sistema europeu "Copérnico".
"Esses dados precisos do movimento do solo terão grande utilidade a nível urbanístico e de construção, vão determinar os materiais e estruturas a usar", esclareceu. "Está na hora das aplicações comerciais", sublinhou. A "qualidade dos dados" e a continuidade do serviço está diretamente relacionada com as condições garantidas pela revolução da Internet, as redes de dados de banda larga, os avanços na área da computorização e as novas ferramentas de mapeamento.
De acordo com os especialistas no congresso, o sistema europeu "Copérnico" será capaz de fornecer dados globais, normalizados e constantes, para que possam existir aplicações que facilitem o uso massivo.
Desde 2005 que a Agência Espacial Europeia (ESA) já investiu para o novo sistema de satélites com 1600 milhões de euros. O projeto contou ainda com outros 600 milhões de euros por parte da União Europeia que, entre 2014 e 2020, investirá outros 3800 milhões de euros, embora se estime que o sistema "Copérnico" seja capaz de gerar 30 mil milhões de euros.
"Cabe ao futuro que se planeiem satélites para a observação, quantificação e vigilância das neves no planeta, para obter informação global sobre a biomassa, medindo a cobertura florestal e a altura das árvores, para conhecer com detalhe, por exemplo, as correntes e outros fenómenos costeiros, porque o oceano aberto já conhecemos bem, mas para muitos efeitos, é um deserto, já que as pessoas vivem na costa e é nela que têm as suas atividades económicas principais", argumenta Alain O'Neill, professor da Universidade de Reading, no Reino Unido.
Uma outra missão que está planeada, a "Biomassa", revolucionará a gestão e exploração dos recursos florestais, mas também vai capturar informação essencial para os especialistas em clima, para quantificar o ciclo de carbono e, inclusivamente, para verificar os acordos internacionais sobre mudanças climatéricas, explicou em Edimburgo o especialista Shaun Quegal, da Universidade de Sheffield. O satélite para esta missão será lançado apenas em 2020.
Neste momento, os satélites indicam que 71% da superfície terrestre está coberta por oceanos e que os restantes 29% estão cobertos por terra firme. Uma vez excluída a Antártida, a superfície é composta por 22% de deserto, 28% por bosques e selvas, 25% por terras de pastoreio, 12% por culturas agrícolas e 13% por áreas urbanizadas. De acordo com Volker Liebig, diretor dos programas de observação da Terra da ESA, existem desde 2011, 23 megacidades no mundo, quando em 1979 apenas Tóquio e Nova Iorque recebiam esta classificação. Este número deverá crescer para 37 até 2025, de acordo com as estimativas elaboradas pela ESA.