O Vaticano publicou, esta sexta-feira, a primeira encíclica escrita por dois papas, na qual Francisco e Bento XVI afirmam que a fé serve o "bem comum" e reiteram a firme oposição ao casamento homossexual.
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Obra a "quatro mãos", tal como a descreveu o Papa em funções, a encíclica "Lumen fidei" (Luz da fé) pede aos crentes que "não sejam arrogantes", mas "abertos ao diálogo", incluindo com os não crentes.
Uma encíclica é, literalmente, uma "carta circular" dirigida aos bispos e padres e, através deles, a todos os católicos.
Esta é a primeira vez, nos dois mil anos de história da Igreja católica, que um Papa retoma o trabalho iniciado pelo predecessor, ainda vivo.
"A luz da fé foi transmitida de um pontífice para o outro, como as corridas de estafetas", afirmou o cardeal canadiano Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, que apresentou o texto à Imprensa.
Quando Bento XVI anunciou a resignação, em fevereiro, o papa emérito já tinha praticamente terminado a redação do projeto da encíclica sobre a fé. Nenhuma divergência doutrinal separa os dois papas, que coabitam no pequeno Estado do Vaticano.
Neste texto de 85 páginas, o Vaticano repete que o casamento é "a união estável entre um homem e uma mulher", que "nasce do amor (...), do reconhecimento e da aceitação deste bem que é a diferença sexual através da qual os cônjuges se podem unir num só ser e são capazes de criar uma nova vida", escreve o Papa, que tal como o antecessor, rejeita categoricamente o casamento homossexual.
Neste texto encontram-se também os temas preferidos de Francisco, como "a solidariedade, a justiça, o direito, a paz e a fraternidade universal".
"É urgente recuperar o caráter luminoso e próprio da fé, pois quando a chama se apaga, todas as outras luzes acabam por definhar", sublinha.
No texto, o Papa garante que se a fé em Deus desaparecesse "a confiança entre os homens ficaria debilitada" e que estes se "manteriam unidos apenas pelo medo".
"Por esta razão, não devemos ter vergonha de confessar publicamente que acreditamos em Deus, porque a fé ilumina a vida social", escreve.
Esta encíclica, publicada no âmbito do Ano da Fé, vem completar as consagradas às duas outras virtudes teológicas e já escritas por Bento XVI: as encíclicas sobre a caridade - "Deus caritas", em 2005, e "Caritas in veritate", em 2009 - e a encíclica sobre a esperança cristã, "Spe Salvi", em 2007.
A encíclica "Lumen fidei" foi assinada pelo Papa Francisco a 29 de junho e, além do cardeal Marc Ouellet, foi também apresentada pelos arcebispos Gerhard Ludwig Muller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.