Mais de 17 horas depois do fogo ter deflagrado em Ourém, é possível ver famílias sentadas à porta de casa, munidas de baldes, mangueiras e depósitos com água para não serem surpreendidas pelo avanço das chamas.
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Depois de uma noite e madrugada em que o incêndio queimou casas, matou uma pessoa e destruiu uma fábrica e com ela o trabalho de algumas dezenas de pessoas, António Santos, na freguesia da Urqueira, diz à agência Lusa que está rodeado de água "para dar luta ao fogo".
À porta de casa tem estacionada uma carrinha com um depósito que encheu logo pela manhã, avisado por uma noite quente.
Com ele, sentados à sombra de uma árvore que cresceu no quintal, hoje sem ervas, estão os dois filhos, um primo, a mulher e um casal amigo.
O secretário de Estado da Administração Interna, Filipe Lobo D'Ávila, informou que a Proteção Civil contava ter o fogo dominado até ao final do dia.
Esta e outras famílias, ao longo do concelho de Ourém, continuam a fazer guarda às habitações, enquanto o céu, de dia, se mantiver escuro devido às colunas de fumo, e persistir o medo de que durante a noite as chamas venham iluminar as povoações de Ourém.
Na mesma freguesia de Urqueira, há um alarme de uma fábrica que parece querer fazer concorrência às sirenes dos carros dos bombeiros ou das viaturas da GNR que correm velozes em direção às chamas.
A fábrica ardeu de madrugada. "Há sete anos o fogo passou por cima dela, mas agora ardeu todinha", disse no local, com os olhos pregados no fumo negro que ainda sai da fábrica um ex-funcionário.
A uns quilómetros da Urcaplás, das máquinas novas e da matéria-prima que a fábrica tinha acabado de receber, Manuel Parreira, um emigrante que está de férias em Chã de Espite, transportava consigo, entre as cinzas da sua antiga casa, um balde vazio.
"Foi só para apagar uma chama que ainda ali estava", explicou, encolhendo os ombros.
Ele e a mulher estavam no Algarve para cumprir os últimos dias de férias em Portugal, antes do regresso a Paris, quando foram avisados de que o fogo cercara a casa da família de Manuel Parreira e destruíra a adega anexa.
"Os depósitos explodiram, os motores de rega foram-se e o esmagador das uvas ficou todo retorcido", lamentou, olhando para a motorizada do pai, uma Macal que queria recuperar, mas que o fogo já não lhe deixou tempo.
Na quinta-feira pagara a um homem 45 euros para que, com um trator, lhe limpasse as ervas que rodeavam a casa.
"Mal empregue o dinheiro", desabafou.