"Foi uma desilusão". A presidente da Câmara de Vila do Conde, Elisa Ferraz, resumiu assim a audiência, de cerca de uma hora, que o primeiro-ministro Passos Coelho concedeu, ao início da tarde desta segunda-feira, às viúvas dos dois pescadores desaparecidos, em abril do ano passado, no naufrágio do arrastão "Mar Nosso", ao largo das Astúrias, Espanha.
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O primeiro-ministro disse-lhes que o governo português "não tem meios técnicos para fazer o acesso ao barco", nem "enquadramento legal" para pagar a uma empresa para o fazer. Segundo a presidente da Câmara, o objetivo desta audiência e da deslocação das duas viúvas a Lisboa era pedir a "intervenção direta" do Governo no resgate dos corpos dos maridos, uma vez que o armador espanhol não cumpriu esse compromisso que tinha com as famílias dos pescadores das Caxinas. Passos Coelho limitou-se a comprometer a "sensibilizar o Governo espanhol para que o inquérito em curso seja levado a bom porto" e para que "seja possível resgatar os corpos".
"Foi uma desilusão na medida em que trazíamos a expectativa de sair daqui com alguma esperança", reconheceu aos jornalistas, no final da audiência, a presidente da Câmara de Vila do Conde. José Festas, presidente da Associação Pró-maior Segurança dos Homens do Mar, também não escondia o seu desalento por saírem da residência oficial "com uma mão cheia de nada". As viúvas, tristes e desiludidas, preferiram não falar aos jornalistas.
A autarca de Vila do Conde considerou "lamentável" que não haja enquadramento legal para que o Governo possa suportar este tipo de despesas, nomeadamente "em situações de cataclismo como estas". A última esperança deposita-se agora no governo espanhol, para que não deixe o inquérito cair por terra e "obrigue o armador a responsabilizar"-se, assumindo os custos e a tarefa do resgate. Estima-se que esta operação ronde os 300 mil euros.
Quando à hipótese de as famílias avançarem em tribunal com uma queixa contra o armador espanhol, a porta-voz da reunião admitiu que esse "provavelmente será o fim da linha" mas que primeiro terão de esperar pela conclusão do inquérito.
No naufrágio do "Mar Nosso", em abril de 2004, morreram três pescadores portugueses e dois continuam desaparecidos. A filha de um deles escreveu ao rei de Espanha a pedir ajuda para o resgate do corpo do pai.