Taxista que transportou as duas mulheres antes destas colocarem termo à vida na linha de comboio, no lugar de São Mamede, no Bombarral, levou o JN ao local onde mãe e filha cometeram o duplo suicídio.
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José Casimiro nem queria acreditar quando leu o jornal pela manhã: as duas clientes que tinha transportado no dia anterior para um sítio ermo em São Mamede, próximo do Bombarral estavam mortas. Tinham cometido duplo suicídio na linha do comboio e ele foi quem as transportou ao local da morte.
Quinze quilómetros e 13,15 euros de corrida depois, mãe e filha ordenaram ao motorista de táxi para que parasse. Pagaram, saíram, mas antes ainda lhe pediram um cartão com o número de telefone. "A mais nova disse-me que poderiam vir a precisar", contou ao JN.
E foi precisamente esse cartão que levou a Polícia até José Casimiro e depois à identidade das vítimas, visto que estas não tinham consigo qualquer identificação na altura do acidente.
Se desconfiou de alguma coisa ou se notou comportamentos estranhos durante a viagem desde as Caldas da Rainha, o taxista não hesita em afirmar: "Nada. Uma corrida normal. Duas mulheres, bem arranjadas, mas quase sempre em silêncio. Só perto do final da viagem é que a mãe disse à filha para me indicar o local exacto para as deixar e a filha disse-lhe para ela não se preocupar".
José Casimiro ainda estava em choque no dia de ontem e quando chegou ao parque de merendas de São Mamede, local onde foram encontrados os corpos, não escondeu a aflição: "Se soubesse que era para uma coisa destas nem tinha aceite que viajassem", contou, revelando que as duas entraram no seu automóvel pelas 12 horas, na praça de táxis da Rua 1º de Maio, muito perto da casa onde viviam. "Como é que é possível duas pessoas fazerem uma coisa destas sem hesitação. Devia ser algo muito grave que estava a acontecer para nem uma nem outra recuarem na altura em que viram o comboio", comentou.
José Rodrigues vive numa casa muito próximo do local onde as duas mulheres cometeram o suicídio. "Vi-as a sair do táxi e depois começaram a andar pela berma da estrada. Pouco depois ouvi um barulho forte vindo da linha férrea e quando apareceu a Polícia é que me apercebi", contou, revelando que a zona é um pouco escondida e que o maquinista terá tido, certamente, muitas dificuldades em fazer parar a composição do comboio.
Maria Isabel Castro e Bela Castro, de 81 e 54 anos, respectivamente eram mãe e filha e viviam na freguesia de Nossa Senhora de Pópulo, nas Caldas da Rainha há cerca de 10 anos. Reformada e viúva, Isabel Castro optou por ir viver com a única filha após a morte do marido. Bela Castro tinha-se divorciado recentemente e, sem filhos, levava a sua vida com a progenitora.
"Eram duas mulheres muito simpáticas e queridas por todos. Falavam muito bem comigo e não me parecia que tivessem algum problema", relatou uma vizinha.
No local de trabalho de Bela Castro, a agência de viagens Top Atlântico naquela localidade, o ambiente, ontem, era de consternação. "Só peço que respeitem a nossa dor e perda. Não sabemos o que aconteceu para acontecer uma tragédia destas", lamentava uma colega em lágrimas. Uma outra comentava que Bela Castro estava um pouco "estranha" no último dia em que falou com ela e que achou pouco normal ela ter o telefone desligado quando a tentou contactar na noite anterior. "Se calhar não queria que ninguém a influenciasse ou demovesse da sua intenção", avançou emocionada.
Vizinhos, amigos, conhecidos, estavam todos estupefactos com o sucedido e as causas para tal continuam incógnitas para todos. "Nada fazia crer que estavam a ter algum problema. É certo que a morte do marido e pai as deixou muito em baixo, mas isso já foi há tanto tempo", tentava justificar um amigo da família.
Entretanto, durante o dia de ontem as autoridades continuaram a tentar encontrar explicações para o ocorrido. Fonte da GNR realçou ao JN que as duas mulheres terão premeditado a acção e que as investigações vão prosseguir. A Polícia Judiciária (PJ) também esteve no local para recolher vestígios e questionar eventuais testemunhas. Ao que foi possível apurar, mãe e filha não têm nenhum familiar próximo, pelo que os corpos ainda não tinham sido reclamados ao final do dia de ontem e irão permanecer no Gabinete de Medicina Legal do Hospital das Caldas da Rainha, até ao serviço funerário.