A Igreja Católica é demasiado eurocêntrica e a Europa "não deve olhar de cima" para os outros continentes, disse, este sábado, o novo cardeal brasileiro, João Braz de Avis.
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"A Europa devia voltar a mostrar uma atitude mais fraterna, e deixar de olhar de cima para os outros continentes", disse Braz de Avis numa entrevista à agência I.Media, citada pela Associated Press.
Braz de Avis foi, este sábado, elevado a cardeal pelo Papa Bento XVI num consistório (reunião entre o papa e os cardeais) no Vaticano.
Neste consistório, Bento XVI criou 22 cardeais: 16 europeus (entre os quais o português Manuel Monteiro de Castro), dois asiáticos, três norte-americanos e apenas um latino-americano. A América Latina é a região do mundo onde vivem mais católicos.
Braz de Avis lamentou o "eurocentrismo" da Igreja.
"Do ponto de visto económico ou político mas também dentro da Igreja, por quanto tempo é que seremos liderados pela Europa e pelos Estados Unidos?", questionou cardeal brasileiro.
"Já não se pode pensar que a América Latina, a Ásia ou a África continuam como antes, que ainda são colónias ou terceiro mundo", insistiu.
Braz de Aviz considera que tornar mais universal o colégio dos cardeais irá ajudar a Igreja Católica a ser "mais representativa": "Já tomámos muitos passos nesse sentido, mas devemos continuar".
Há 125 cardeais com menos de 80 anos, e que portanto têm a capacidade de eleger um novo Papa em conclave. Destes, mais de metade (67) são europeus. E, dos europeus, 30 são italianos.
Os europeus, e particularmente os italianos, têm grande preponderância na hierarquia da Igreja Católica. O actual Papa, de 84 anos, é alemão; o seu antecessor, João Paulo II, era polaco; todos os outros papas do século XX foram italianos.