A Igreja Católica poderá investigar "o que se passa" nos países não ocidentais em matéria de pedofilia no clero, se passar a sugestão feita ontem, sexta-feira, por vários cardeais numa "jornada de reflexão e oração" convocada por Bento XVI, na qual voltou a criticar a laicização.<br />
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Segundo o cardeal André Vingt-Trois, bispo de Paris, alguns dos seus pares "chamaram a atenção para o facto de o debate sobre a pedofilia na Igreja estar concentrado sobre países ocidentais, como se não existisse no resto do mundo".
A pedofilia foi o tema mais "quente" do encontro, em que participaram 150 cardeais, incluindo os 24 novos que vão ser criados hoje, sábado, quase um ano após a publicação, na Irlanda, de uma investigação de três anos (Relatório Murphy) a abusos sexuais sobre centenas de crianças durante décadas.
Foi a primeira vez que o Colégio Cardinalício discutiu o tema "ultra-sensível", sem que se espere a publicação de documentos, mas recolheu "a confirmação de medidas tomadas (localmente) e encorajando as conferências episcopais (nacionais) a continuar a lutar esse mal", segundo o alemão Walter Kasper.
"Se o Papa e os cardeais desejam verdadeiramente mudar qualquer coisa, deveriam encontrar-se com a Polícia e com magistrados e não satisfazerem-se por se reverem", comentou, citado pela agência France Presse (AFP), Joëlle Casteix, 40 anos, vítima de abusos por padres que foi a Roma em protesto.
No início da jornada, Bento XVI sustentou que a laicização acelerada das sociedades ocidentais ameaça "destruir a liberdade religiosa, apresentando-se como uma verdadeira "ditadura"".
"Encontramo-nos num momento difícil para a liberdade de anunciar a verdade do Evangelho e as grandes aquisições do cristianismo", disse.
Apresentando o tema da liberdade religiosa, o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, referiu-se a "tentativas de limitar a liberdade dos cristãos em várias regiões do mundo", mas destacou os países ocidentais.
"Mesmo tratando-se de nações que devem muitas vezes ao cristianismo as características profundas das suas identidade e cultura, assistimos hoje a um processo de secularização", acrescentou, segundo o comunicado de imprensa, enquanto fontes da AFP indicaram que Bertone falou de uma escalada de "cristianofobia".