O Papa Bento XVI prometeu, esta quinta-feira, "obediência incondicional" ao sucessor, numa cerimónia de adeus aos cardeais na sala Clementina, no Vaticano.
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"Entre vós encontra-se o próximo Papa, ao qual prometo deferência e obediência incondicionais", declarou, numa breve intervenção algumas horas antes da resignação histórica, acrescentando que estaria próximo dos cardeais "em oração" durante o próximo conclave.
Joseph Ratzinger voltou a mencionar os "momentos muito felizes e de momentos em que houve algumas nuvens no céu", durante os oito anos de pontificado, numa alusão a vários escândalos.
Bento XVI manifestou esperança de que os cardeais sejam "uma orquestra", cujas "diversidades concorram para a harmonia" da realidade mais elevada da Igreja, agradecendo "a proximidade", "os conselhos" e a "grande ajuda" que lhe prestaram.
"Demos esperança, proveniente de Cristo" ao mundo, durante estes oito anos, acrescentou, perante a plateia de cardeais, entre os quais se contavam os três portugueses: José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor da Santa Sé, e José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa.
Bento XVI afirmou que "a Igreja não é uma instituição, mas uma realidade viva" (...) "está no mundo, mas não pertence ao mundo".
No final da declaração, os cardeais dirigiram-se ao papa, para o cumprimentar e despedir-se, alguns já curvados pela idade ou em cadeira de rodas. Muitos choravam ou estavam muito emocionados, ao beijar o anel papal, ao apertar as mãos e na troca de algumas palavras, de acordo com a agência noticiosa francesa AFP.
Bento XVI chegou à sala Clementina com pequenos passos, visivelmente cansado, e sentou-se num pequeno trono dourado coberto de veludo vermelho.
"À sua frente encontrava-se um fresco que mostra a barca da Igreja no meio da tempestade, um tema ao qual aludiu perante mais de 150.000 fiéis na quarta-feira, na praça de São Pedro.
O decano [presidente] do Colégio Cardinalício, o cardeal Angelo Sodani, prestou homenagem a Bento XVI: "com uma grande febrilidade, os cardeais presentes em Roma reúnem-se hoje ao vosso redor, para vos manifestar, mais uma vez, a sua profunda afeição pelo vosso testemunho de abnegação no serviço apostólico, pelo bem da Igreja de Cristo e de toda a humanidade".
O antigo braço direito de João Paulo II sublinhou que "a continuidade apostólica vai continuar, aquela que o Senhor prometeu à sua Igreja".
A resignação de Bento XVI torna-se efetiva a partir das 19.00 TMG (mesma hora em Lisboa).
O Papa Bento XVI, de 85 anos, anunciou a 11 de fevereiro, durante um consistório no Vaticano, a resignação devido "à idade avançada".
Um novo Papa será escolhido até à Páscoa, a 31 de março.
O último chefe da Igreja Católica a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).