A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares disse, esta quarta-feira, que os dados da Eurostat, que indicam que um em cada quatro portugueses vivia em risco de pobreza ou exclusão social em 2010, não são aceitáveis e devem preocupar.
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"Sendo um quarto da população, estamos a falar de 2,5 milhões de portugueses que hoje em dia vivem com grandes dificuldades, é um numero que não podemos aceitar e é um número que nos deve preocupar pelas suas causas, mas também pelo facto de ao longo destes anos todos não se ter ainda conseguido lidar com aquilo que é a pobreza estrutural e que subsiste na sociedade portuguesa, apesar da quantidade enorme de estudos e de dinheiro que tem sido transferido", afirmou Isabel Jonet.
A responsável, que falava aos jornalistas na Assembleia Legislativa da Madeira, no Funchal, antes de uma audição na 5.ª Comissão Especializada Permanente de Saúde, Assuntos Sociais e Protecção Civil, admitiu que os dados não a surpreendem.
"Infelizmente esses números não me admiram muito, o INE [Instituto Nacional de Estatística] havia já publicado que em 2009 um quinto dos portugueses vivia em risco de pobreza e mesmo podia ser considerado pobre", declarou Isabel Jonet, que se encontra na Madeira para aferir da possibilidade de criação de um banco alimentar no arquipélago.
Segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Eurostat, um em cada quatro portugueses vivia, em 2010, em risco de pobreza ou exclusão social, um número ligeiramente superior à média europeia.
Os dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia indicam que a percentagem de portugueses a viver em risco de pobreza ou exclusão social aumentou de 2009 (24,9%) para 2010 (25,3%).
A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares considerou que "a situação se agravou no último ano, sobretudo ao desemprego e aos créditos que muitas famílias assumiram e que, actualmente, por uma qualquer razão não têm forma de poder pagar".
Isabel Jonet salientou também ser "muito preocupante" o facto de haver em Portugal "um milhão de idosos que vive com menos de 280 euros por mês".
"É um número que é demasiado gritante (...) e que nos envergonha a todos", observou, dizendo ainda temer o agravamento da pobreza no país.
"Temos que com realidade encarar que no próximo ano e no ano que vem a seguir o número de portugueses em dificuldades vai crescer muito e, portanto, não adianta tentarmos escamotear aquela que é uma realidade", referiu, defendendo: "Temos que todos juntos, de uma maneira muito realista, mas muito solidária, pensar como é que vamos ajudar cada uma destas pessoas".
A dirigente informou que a federação nunca ponderou uma terceira campanha nacional de recolha de alimentos.
"As campanhas do Banco Alimentar servem para angariar produtos que são básicos e relativamente aos quais não há excedentes de produção, mas servem também para falar da fome e das carências à população e para incentivar o trabalho voluntário", declarou, garantindo: "Não faremos nunca mais do que duas campanhas, que representam apenas 20% das entradas".
"Aquilo que temos que fazer é tentar estruturar a rede de apoio aos mais carenciados e com essa finalidade, em 2004, criámos a 'Entre Ajuda'", apontou, explicando que esta entidade tem, desde há quase oito anos, tentado "levar a gestão e organização às instituições do terceiro sector para que elas próprias, poupando recursos, possam ser mais eficientes e mais eficazes", acrescentou.