O voto favorável, em referendo, dos suíços à imposição de restrições à imigração gera preocupação e dificuldades para jovens portugueses recém-chegados à Federação Helvética que, nalguns casos, encontraram situações de xenofobia, mas que querem continuar no país.
Rui Pinto, 23 anos, mecânico sem trabalho fixo, chegou há um ano à Suíça com a namorada, Ana Guimarães, 21 anos, que trabalha num hotel em Leukerbad, na parte alemã do cantão de Valais, e disse à Lusa que a relação com os suíços é muito variável.
"Estive em Morgins. O pessoal aí era cinco estrelas, mas aqui, em Leuk, são racistas, não há descrição possível. É a primeira vez que senti isso na pele. Por exemplo, não tenho garagem para o meu carro, por isso devo deixá-lo à frente do prédio, mas cada vez que o faço o porteiro vem implicar comigo em alemão, que nem entendo. Quando outro carro estaciona no mesmo sítio ele não diz nada", afirmou.
A situação não desencoraja Rui Pinto, que insiste que "o importante é estar na Suíça", onde quer estabelecer-se em permanência. "Quando arranjar um emprego noutro sítio, vamo-nos embora de Leuk", adiantou.
Fabiana, 27 anos, e Bruno, 25 anos, são casados e trabalhavam numa companhia de teatro em Portugal antes de ficarem desempregados. No ano passado decidiram tentar a sorte na Suíça, onde Fabiana tem família, que ajudou com casa e trabalho.
Os dois jovens portugueses percebem as tendências para a limitação da imigração, mas o resultado do referendo acabou por ser uma surpresa.
"Para já, devemos esperar a resposta da União Europeia, mas de todas as formas não vai haver repercussões imediatas. Não vamos alterar os nossos planos" disse Fabiana à Lusa.
No domingo, 50,3% dos suíços aprovaram em referendo uma iniciativa denominada "Contra a Imigração em Massa", proposta pela União Democrática do Centro (UDC), que também restabelece o princípio da preferência pelo trabalhador nacional face ao estrangeiro, que se encontrava abolida para todos os trabalhadores oriundos de algum dos países da União Europeia.
A partir de agora, o número de autorizações emitidas para uma estada de estrangeiros na Suíça é limitado por quotas anuais, com limitações ao reagrupamento familiar, novas regras para benefícios sociais, autorizações de residência.
Na Suíça, residem cerca de 250 mil portugueses e lusodescendentes, um número que tem aumentado nos últimos anos devido à crise em Portugal e na União Europeia.
Confrontado com o resultado do referendo, Diogo Costa, 27 anos, produtor audiovisual, há um ano a residir na Suíça, nunca se sentiu como ilegal, mas sabe vai ter de fazer mais esforços para regularizar a sua situação. Mas, "se não for possível, a vida não acaba por aí", disse com otimismo.
