Responsabilizar o sector da restauração e levá-lo a adoptar boas práticas no que diz respeito à alimentação saudável é um dos objectivos do 9.º Congresso de Nutricionismo que hoje, quinta-feira, começa em Lisboa, sob o lema "Pandemias do século XXI".
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A obesidade, a hipertensão e a diabetes são doenças crónicas, com características idênticas às de uma pandemia, dada a sua rápida proliferação.
Alimentação incorrecta e falta de exercício são os principais causadores destas patologias. As campanhas de sensibilização e a informação disponível hoje em dia têm sido insuficientes para levar as pessoas a adoptar estilos de vida saudável. Ou a regressar à dieta mediterrânea, considerada uma das dietas mais equilibradas. O corre-corre do dia-a-dia afastou-nos das caldeiradas, das sopas, dos legumes e das frutas. Mas os restaurantes também não ajudam e é por isso que o congresso vai lançar um forte apelo para que as organizações do sector também se sintam responsabilizadas por este verdadeiro problema de saúde pública.
"A restauração também tem de ser promotora de uma alimentação saudável", diz Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa de Nutricionismo (APN). E não tem sido, segundo a médica: "É tudo acompanhado de arroz e batata frita".
A ideia é a de sensibilizar os restaurantes para a confecção de pratos alternativos, sem aumento do custo das refeições. Uma ideia que não será fácil de "vender" aos restaurantes e similares.
Susana Leitão, da Associação de Hotelaria e Restauração de Portugal (AHRESP), diz que este é um tema que tem vindo a ser discutido desde há mais de um ano na Plataforma contra a Obesidade, que integra também a ANP. A primeira proposta do grupo de trabalho constituído para o efeito consistia na imposição de um "menu equilíbrio" a que se opuseram. Era um menu com refeições com um máximo de 800 calorias, onde só era possível beber água e que, em muitos casos, "ia mesmo contra a dieta mediterrânea".
Neste momento, está a ser ultimado um "referencial de boas práticas" a que os restaurantes aderirão "voluntariamente", diz.
Estão apenas a ser acertados alguns pontos, mas deverá estar "aprovado antes do Verão". "Há questões com as quais não concordamos, como a obrigatoriedade de dizermos aos clientes que o sal é prejudicial à saúde, sempre que solicitam o saleiro", conta, confiante de que, apesar de tudo, o documento será aprovado.
Numa primeira fase, serão escolhidos alguns restaurantes nas diferentes regiões, e, se a experiência resultar, o referencial de boas práticas será alargado a todo o país. Embora voluntária, Susana Leitão acredita que haverá muita adesão.
"O país está sensível a este tipo de questões", afirma, defendendo que uma solução destas "é muito mais eficaz do que medidas legislativas rígidas", às quais, garante, a AHRESP se oporá.
"Não cabe ao sector educar o consumidor; cabe ao Estado", afirma. Não haverá qualquer tipo de fiscalização, conforme disse esta engenheira ao JN, mas apenas a promoção e publicitação dos restaurantes que adoptarem estas boas práticas.
E os preços destas refeições? "Vamos tentar com que não subam", promete.