O Papa Francisco disse, este domingo, que os papas agora proclamados santos, João XXIII e João Paulo II, "restauraram e atualizaram a Igreja segundo a sua fisionomia original". Chamou ao italiano "o Papa da docilidade ao Espírito" e ao polaco definiu-o como "o Papa da família".
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As palavras de Francisco foram proferidas durante a homilia na missa de canonização de ambos os pontífices, no Vaticano.
Perante centenas de milhar de fiéis que se reuniram hoje na Praça de São Pedro e nas imediações, o papa indicou que os novos santos foram "homens corajosos, cheios de parresia [termo grego que significa liberdade] e de espírito santo", que deram "testemunho perante a Igreja e o mundo da bondade de Deus, da sua misericórdia".
Dos dois papas, o atual pontífice recordou, na homilia pronunciada em italiano, que "conheceram as suas tragédias, mas não desistiram". "Neles, Deus foi mais forte", exclamou.
Cerca de 800 mil pessoas assistiram à cerimónia de canonização, indicou o Vaticano, citando avaliações da polícia de Roma. Quinhentas mil pessoas estiveram na Praça de São Pedro, no Vaticano, e outras 300 mil ficaram dispersas por Roma em torno de ecrãs gigantes, disse à imprensa um porta-voz da Santa Sé.
"Olhar as feridas de Jesus"
O Papa começou por comentar um episódio bíblico sobre São Tomás que toca as chagas de Jesus ressuscitado e em seguida sublinhou como Karol Wojtyla e Angelo Roncali tiveram "o mérito de olhar as feridas de Jesus, de tocar as suas mãos chagadas e o seu corpo trespassado".
São João XXIII e São João Paulo II, como lhes chamou já o pontífice, "não se envergonharam da carne de Cristo, não se escandalizaram dele, da sua cruz, não se envergonharam da carne do irmão, porque em cada pessoa que sofria viram Jesus", acrescentou.
Para o Papa Jorge Bergoglio "nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, havia uma esperança viva, com alegria inefável e radiante".
Uma esperança e uma alegria que "os dois papas santos receberam como um dom do Senhor ressuscitado" e que por sua vez "deram abundantemente ao povo de Deus, recebendo dele um eterno reconhecimento".
O Papa da docilidade e o Papa da família
Para o Papa, esta esperança e esta alegria "respirava-se na primeira comunidade de crentes" em que se vivia "o amor, a misericórdia, com sensibilidade e fraternidade".
"E é esta imagem da Igreja que o Concílio do Vaticano II teve diante de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restaurar e atualizar a Igreja, segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos", explicou.
Francisco disse que, ao convocar o Concílio do Vaticano II (1962), João XXIII demonstrou "uma delicada docilidade ao Espírito Santo", deixou-se conduzir e foi para a Igreja "um pastor, um guia-guiado".
"Este foi o seu grande serviço na Igreja. Foi o Papa da docilidade ao Espírito", disse.
Em relação ao pontífice polaco, Francisco definiu-o como "o Papa da família".
"Ele próprio, disse uma vez que assim gostaria de ser recordado, como o Papa da família. Gosto de o sublinhar agora que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele, do céu, certamente acompanha e apoia", acrescentou.