Confrontado com perdas avultadas, na sequência de catástrofes naturais, o sector segurador está entre os espectadores mais atentos de Copenhaga. E alerta para a necessidade de os governos se envolverem.
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Na memória (e nas contas) das grandes resseguradoras e seguradoras mundiais ainda estão os efeitos do furacão "Andrew", cujo rasto de destruição acabou por traduzir-se numa das maiores facturas alguma vez pagas pelo sector na sequência de uma catástrofe natural: cerca de 20 mil milhões de dólares. Mas esta "conta" apenas veio confirmar aquilo que já se constatava, ou seja, que as perdas (traduzidas em indemnizações aos segurados) associadas às alterações climáticas mais do que duplicaram nas últimas décadas.
Porque, na indústria seguradora já ninguém tem dúvidas sobre a ligação directa entre estas alterações, o aumento da frequência com que ocorrem catástrofes naturais e a "explosão" das perdas financeiras do sector. Mas já sobre a forma de enfrentar esta realidade sobram interrogações, até porque as respostas ao problema, nas suas várias vertentes, não dependem apenas do sector segurador. A expectativa sobre o que se passa nesta Cimeira é, por isso grande.
Relatórios sobre a evolução das perdas (totais e assumidas pelas seguradoras) por causa de catástrofes naturais mostram que mais de metade dos furacões, cheias, incêndios e outro tipo de catástrofes naturais são devidas a alterações climáticas e mostram também que da década de 80 para a de 90 houve uma duplicação deste tipo de desastres naturais.
Face a este cenário - e tendo em conta a dificuldade de prever algumas catástrofes e, mesmo quando são previsíveis, de calcular o seu risco e impacto - o sector segurador tem chamado a atenção para o facto de as alterações climáticas implicarem problemas sociais aos quais só poderá responder em parceria com os governos e a indústria. Num dos últimos relatórios da "Associação de Genebra" (que integra 80 das maiores seguradoras) sublinha-se que se a economia, indústria e as famílias não reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa, os "seguros, tal como os conhecemos hoje, irão ficar mais caros e em alguns casos as coberturas poderão deixar de ser economicamente viáveis".
Para evitar subidas de preços incomportáveis, ou a pura e simples retirada de certas coberturas de risco, e também para evitar falência entre as seguradoras, o sector sublinha a necessidade de os governos se tornarem um parceiro e a importância de diversificar o risco através da criação de instrumentos financeiros.
E mesmo que de Copenhaga não saiam grandes metas e compromissos, "alguma coisa tem de se fazer", como diz um dos responsáveis da Munich Re, sendo também assumido que o sector não vai poder responder sozinho aos riscos que se adivinham. Enquanto se procuram novas estratégias, começa a discutir-se a necessidade de algumas coberturas incidirem sobre novos riscos, como o de "escaldão" ou "chuvas persistentes", nos seguros de colheitas, para minimizar os efeitos na agricultura.
