Sucessor de Bento XVI deve ser mais "pastor", diz teórico da Teologia da Libertação
O principal teórico da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff, defende que o sucessor de Bento XVI deve ser mais "pastor" que "professor" e menos ligado à instituição e ao poder.
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"O perfil do próximo Papa não deveria ser o de um homem do poder e da instituição. Onde há poder inexiste amor e desaparece a misericórdia. Deveria ser um pastor, próximo dos fiéis e de todos os seres humanos", opina Boff, em texto publicado no seu blogue.
Para o defensor da Teologia da Libertação, Bento XVI foi um "eminente teólogo, mas um Papa frustrado", sem "carisma" na direção e animação da comunidade católica, ao contrário do seu antecessor, João Paulo II.
Sem tomar partido quanto à nacionalidade do novo Papa, o teólogo defende apenas que o eleito não deve ser "um homem do Ocidente", mas sim um homem "do mundo globalizado", que se identifique com todos e sinta a "paixão dos sofredores".
Deve ser "um homem de profunda bondade, no estilo de João XXIII, com ternura para com os humildes e com firmeza profética para denunciar quem promove a exploração e faz da violência e da guerra instrumentos de dominação dos outros e do mundo", completa.
Boff conviveu de perto com Joseph Ratzinger entre 1965 e 1970, quando estudou na Alemanha. Ambos chegaram a trabalhar juntos na revista internacional Concilium, até 1980.
Quatro anos mais tarde, o reencontro ocorreu numa situação diferente. Ratzinger foi o juiz no processo movido pelo Conselho para a Doutrina da Fé contra o livro "Carisma e Poder", de Boff.
O veredito de Bento XVI obrigou o teólogo brasileiro a um período de "silêncio obsequioso", tendo sido obrigado a deixar a cátedra e proibido de publicar seus textos ou divulgar suas ideias.
"Infelizmente ele será estigmatizado, de forma reducionista, como o papa onde grassaram os pedófilos, onde os homoafetivos não tiveram reconhecimento" e "como aquele que censurou pesadamente a Teologia da Libertação, interpretada à luz de seus delatores e não à luz das práticas pastorais e libertadoras de bispos e padres", salientou Boff.
O Brasil possui cinco cardeais elegíveis ao posto, entre eles, o atual arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, que é considerado um dos favoritos da América Latina.