O Governo "não pode agradecer a resignação a quem sofreu tanto" porque "isso é um insulto" e "era o que Salazar pedia", disse, esta sexta-feira, o bispo das Forças Armadas, após missa que juntou militares e governantes em Fátima. D. Januário Torgal Ferreira chamou ainda a atenção para os protestos no Brasil.
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No final da missa oficial da XXXII Peregrinação da Diocese das Forças Armadas e Segurança na qual participaram os ministros da Defesa e da Administração Interna, Aguiar Branco e Miguel Macedo, respetivamente, D. Januário Torgal Ferreira defendeu que é sempre bom relembrar os ministros sobre o patriotismo.
O bispo das Forças Armadas explicou que durante a homilia procurou frisar que "quando as pessoas desempenham funções importantes para a pátria é importante meditar sobre os valores dessas funções".
Palavras que disse ter dirigido "aos militares e, com toda a liberdade e todo o respeito, às autoridades civis".
"Vejo que pessoas que hoje ocupam cargos no Governo são incapazes de dizer 'pobre'. (...) Temos dois milhões de pobres. Mas, sobretudo pedir, agradecer a resignação a quem sofreu tanto? Eu acho um insulto, Isso era o que Salazar pedia (...) e eu não aceito a resignação em nome da minha cultura cristã e humana", sublinhou.
O prelado lembrou que "desde a primeira hora houve gente inteligente, patriótica e fraterna que disse que íamos pelo mau caminho" e legitimou as suas tomadas de posição, salientando que não está a falar de política, mas da doutrina social da Igreja.
"Vejam o caso do Brasil, abram os olhos. O povo quer educação, saúde", exemplificou, recordando que em Portugal "descascavam todos os meses o salário" aos reformados e os recentes acontecimentos com os professores.
A docência, "como classe, está abandonada. Fizeram muito bem em ir para a greve. Não quiseram prejudicar as crianças. É preferível que um jovem seja prejudicado um dia pela greve do que todos os dias por um sistema público de educação que é um remendo e uma insensatez em muitas coisas", criticou.