Doze crianças ucranianas despediram-se de Portugal, este domingo, depois de um mês de férias com famílias de acolhimento portuguesas. São "vítimas de Chernobyl" que trazem, num rosto feliz, as marcas da maior catástrofe nuclear da História.
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Chegou ao fim mais um mês de férias de "Verão Azul", um projecto social desenvolvido pela seguradora Liberty Seguros que possibilita a deslocação de crianças "vítimas de Chernobyl" a Portugal.
O Jardim Zoológico de Lisboa foi o palco para a despedida emocionada de "pais e filhos", antes da partida para o aeroporto.
Em esforço para conter as lágrimas, Palmira Ribeiro e Armando Borges dizem que "hoje é um dia muito difícil". "Só vi o meu marido chorar duas vezes e as duas foram quando teve de se despedir do Alex. É um dia muito difícil e é preciso sermos muito fortes", disse Palmira. Alex é o "filho" deste casal que passou o terceiro ano com a mesma família que também já considera sua.
A comunicação é o maior obstáculo, já que Alex não fala português, mas através de linguagem ou desenhos o entendimento é "quase perfeito", dizem os pais. Os hábitos de higiene e maneiras de estar são outras das diferenças de comportamento verificadas em Alex que, adiantou Palmira, não percebe porque é preciso lavar as mãos antes das refeições ou sair da mesa só quando todos terminarem.
Estes pais portugueses sentem a falta dele o resto do ano e anseiam sempre pelo Verão seguinte, mas os telefonemas no Natal, aniversários e até no Dia da Mãe ajudam a acalmar as saudades.
O mesmo se passa com Paulo e Olímpia Correia que acolheram Viktoria, uma menina de 13 anos com "uma vida muito difícil". Perdeu o pai e o tio o ano passado, os dois vítimas de doenças contraídas pelo acidente de Chernobyl. Agora, na Ucrânia, vive com a mãe e mais duas irmãs mais novas, das quais tem de tomar conta, já para não falar nas tarefas domésticas que lhe são exigidas e que a impede de se aplicar na escola que tanto gosta.
Os laços com a família portuguesa são fortes e por vontade de Paulo e Olímpia, adoptariam Viktoria. "Já fui duas vezes à Ucrânia para ver se a trazia mas não consegui, mas este ano vou lá novamente e hei-de trazê-la para passar o Natal connosco", disse Paulo Correia.
O casal nota grandes diferenças em Viktoria que, quando chegou a esta família, o ano passado, vinha "muito mal tratada". "Vinha muito suja, o cabelo comprido cheio de piolhos. Ela até tinha vergonha de estar connosco", acrescentou Olímpia.
De personalidade forte, determinada e que não gosta de ser contrariada, Paulo vê a sua menina, como gosta carinhosamente de chamar, a filha que nunca teve.
Viktoria com um angioma na pele e Alex com uma deficiência cardíaca, os dois pouco sabem sobre o que aconteceu na madrugada de 26 de Abril de 1986, quando uma explosão no quarto reactor da Central de Chernobyl, na antiga república soviética da Ucrânia, provocou o maior acidente nuclear de que há memória.
Pelo terceiro ano consecutivo e em parceria com a Associação Cultural e Recreativa e de Solidariedade (ACLIS), a Liberty Seguros trouxe a Portugal um grupo de crianças vítimas do desastre de Chernobyl para passarem cinco semanas de férias ao cuidado das famílias dos seus colaboradores e parceiros de negócio.