Xangai é uma mostra da nova China. Moderna, apressada, em crescimento. Mas as indústrias que durante anos fizeram dela um dos principais pólos de desenvolvimento do país estão a sair da cidade. Veja o vídeo.
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As ruas, largas, estão cheias de carros europeus e japoneses, dos mais simples aos mais luxuosos. Os painéis publicitários multiplicam-se como em qualquer cidade que nos habituamos a identificar com o sistema económico capitalista: quando não são de automóveis de luxo são, seguramente, de bancos. Mas algo ensombra todo este desenvolvimento. É como que uma nuvem a pairar sobre a cidade, nesta altura do ano em que também o clima dificilmente deixa ver o Sol.
"Há 20 anos a situação era bastante pior", explica o responsável de uma ONG internacional em actividade na China. "Hoje, mais do que nunca, Xangai é uma cidade de serviços e as indústrias que restam estão passo a passo a mudar-se para outras zonas". Esta mudança significa uma mudança da pegada ecológica da cidade.
Xangai cidade está dividida entre Puxi, a zona mais antiga, e Pudong, uma espécie de Manhattan do Oriente, repleta de torres de escritórios em aço e vidro. "O centro da cidade albergava muitas indústrias antigas e poluentes. Agora, esse espaço está reservado às indústrias criativas e grande parte, incluindo alguns dos que eram os bairros mais pobres da cidade, foram totalmente demolidos para ser construído o espaço da Exposição Mundial de 2010", explica.
É por causa da Expo 2010 que Li Pjang, estudante de Economia em Xangai, vai no tempo livre até ao Bund, uma das zonas mais características da cidade e, por isso, mais frequentada pelos turistas. "Venho até aqui para falar com os turistas e treinar o meu inglês porque vou ser um dos voluntários durante a Expo". A justificação acaba por ser apenas uma introdução para explicar por que razão Xangai está transformada num estaleiro. As obras estão por todo o lado, acompanhadas do omnipresente Haibao, a mascote da Expo, que se antevê já como a consagração de uma cidade que conquistou um lugar entre as mais importantes do Mundo.
No Bund, Pjang aponta para a auto-estrada que chegava do centro da cidade e ocupava a zona junto ao rio: "Agora está a ser construído um sistema de túneis que vai deixar a superfície livre para os peões". Em frente a este espaço, que será um dos mais importantes de Xangai, acumulam-se os velhos e imponentes edifícios dos bancos e algumas das lojas que marcam os novos tempos. A Dolce & Gabana, a Cartier e a Ermenegildo Zegna estão mesmo ao lado de um dos hotéis mais emblemáticos da cidade, o "Hotel da Paz" (Peace Hotel), também ele em obras e encerrado desde 2007 para ser totalmente renovado e abrir, é claro, a tempo da Expo2010.
Tudo parece estar preparado para os milhões de turistas que Xangai espera receber a partir de Maio. Mais ainda do que aqueles que já hoje enchem os principais pontos de interesse da cidade. "A maioria dos turistas são chineses", explica Pjang.
Apesar de transformado em guia turístico de ocasião, Pjang tenta saber o que os outros pensam da cidade. E insiste num quase pedido de desculpas pelas obras que se multiplicam pelas ruas. Mas esta não é a China comum, nem sequer Pequim, onde os problemas de poluição se mantêm em níveis bem mais elevados.
Afinal, Xangai é a cidade chinesa que mais verbas atribui ao ambiente: "Três por cento do PIB da cidade é destinado a projectos de protecção ambiental", admite o responsável de uma ONG, que explica também que tanto o consumo energético da cidade como a taxa de construção estão a estabilizar.
"Os maiores consumos energéticos das cidades provêm normalmente das indústrias, dos transportes e, em terceiro lugar, dos edifícios. Em Xangai, os edifícios são os segundos maiores consumidores de energia", explica o mesmo responsável.
A sul do Bund e da cidade velha vai ficar o espaço de exposições da Expo 2010, bem perto do centro e dividido pelos dois lado do rio. Ainda não há muito tempo, era aí que estavam muitas das indústrias que Xangai quer afastar e alguns dos bairros mais pobres.