Uma equipa de cientistas americanos conseguiu descodificar a estrutura do genoma completo do vírus da sida. A descoberta abre a caminho a uma melhor compreensão dos mecanismos de infecção e ao desenvolvimento de terapias mais eficazes.
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Ao contrário do genoma dos mamíferos, que está inscrito na dupla hélice do ADN (ácido desoxirribonucleico), o vírus de imunodeficiência humana (VIH) - tal como os da gripe, das constipações vulgares e da poliomielite - tem a informação genética numa molécula de ácido ribonucleico (ARN, com apenas uma tira).
Até agora, a técnica permitia estudar ao nível do átomo, mas em áreas isoladas. O novo método (Shape) permite não apenas ver todos os nucleótidos, como a estrutura completa do ARN, como se se olhasse um mapa de cima. Perdem-se os pequenos detalhes, explica Kevin Weeks, da Universidade da Califórnia, mas ganha-se uma visão geral dos mecanismos estruturais.
Jaime Nina, virologista do Instituto Ricardo Jorge, fala em "pequeno passo": a descoberta é "importante", mas não "fundamental". Do seu lado, Francisco Antunes, infecciologista do Santa Maria, saúda a hipótese aberta de, "no futuro, se poder criar medicamentos com mais precisão". Isto porque o Shape permite "identificar novos locais onde os medicamentos possam actuar". Mas faz questão de realçar que se trata apenas do primeiro passo. "Serão necessários muitos anos de investigação até se desenhar novos fármacos". Para beneficiar da descoberta será preciso esperar "dez a 20 anos", o tempo normal de desenvolvimento e ensaio de fármacos. Mais importante, diz é disponibilizar os actuais antivirais - que controlam a infecção em 90% dos infectados - a todos quantos deles precisem. E lembra o caso de África: só chegam a 30% dos doentes.
