A Inspeção de Saúde instaurou processos disciplinares a três médicos e a uma técnica de análises do Hospital de Águeda por comportamento negligente que poderá ter levado à morte de José Moreira, 56 anos, observado na Urgência em agosto de 2009. Catorze horas após ter alta, morreu. A inspecção concluiu que o doente foi mal avaliado e que deveria ter ficado internado.
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Os médicos a quem o IGAS instaurou processos disciplinares são Paulo Ferreira (recentemente nomeado diretor-clínico do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, mas que na altura era diretor da Urgência de Águeda), Adriano Domingues e Joana Domingues. A estes junta-se Rosário Neto, técnica de análises, que surge neste processo devido a uma troca de análises, após um erro de Joana Domingues.
Paralelamente ao processo disciplinar do IGAS, cuja sentença poderá estar para breve, a família de José Moreira apresentou uma queixa-crime no Ministério Público (MP) de Águeda contra dois dos médicos envolvidos, Paulo e Domingos), HA e outros pelo crime de homicídio negligente, confirmou, ao JN, a filha Sónia Moreira. O processo do MP está em fase de inquérito.
Troca de análises
José Moreira deu entrada na Urgência pelas 20.27 horas de 13 de agosto de 2009. Tinha--se sentido mal durante uma caminhada, em Águeda.
Foi observado pela médica Joana Domingues, que solicitou análises, eletrocardiograma (ECG) e RX de tórax. Analisados os meios complementares de diagnóstico, os três médicos envolvidos "concluíram que, devido a um grande esforço, o meu pai tinha sofrido uma contração muscular que o impedia de respirar normalmente", conta Sónia.
Entretanto, a médica Joana foi alertada pela técnica de laboratório, Rosário Neto, de que a requisição das análises de José tinha sido formulada em nome de outro doente, no caso Jorge Jesus, "alegadamente por ter havido um erro da médica na requisição das análises", refere o IGAS. A colheita acabou por ser realizada por Rosário, "com o intuito de não atrasar as análises". Diz o IGAS que todos os médicos conheciam a situação.
Adriano, após consultar Paulo, deu alta a José às 23.10 horas, mas entregou ao utente as análises em nome de... Jorge Jesus.
O IGAS conclui que o eletrocardiograma "apresenta alterações compatíveis com isquémia aguda de miocárdio", que pode levar a um ataque cardíaco.
"Impunha-se a repetição dos parâmetros laboratoriais, a realização de um segundo ECG e o internamento do doente", concluíram os inspetores.