A mais recente medida de incentivo da Apple e do Facebook, que oferece o congelamento de óvulos às suas funcionárias, pode ser encarada por dois prismas bem diferentes.
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Tânia Alves tem 24 anos e trabalha no Porto Tech Center, o centro de desenvolvimento portuense de uma multinacional na área das tecnologias. Grávida, acredita que, hoje em dia, "a maioria das mulheres opta por deixar a maternidade para mais tarde", por falta de "condições financeiras" mas, acima de tudo, porque tem "medo de perder o trabalho" ou da notícia "não ser muito bem recebida por parte da empresa".
"Não posso negar que tive medo quando soube que estava grávida", assegura, mas acabou por não ter qualquer entrave e a empresa onde trabalha até lhe vai oferecer um bónus de parentalidade. "A notícia foi muito bem recebida e todos os meus medos eram desnecessários".
O caso de Tânia não é, no entanto, o mais comum. Muitas mulheres são discriminadas quanto ao seu desejo de serem mães e muitas até perdem o seu posto de trabalho quando o decidem fazer. "Acho que em Portugal, um país com tão pouca natalidade, uma gravidez seria de valorizar e não de criticar. Mas tenho perfeita consciência de que isso nem sempre é assim", refere.
É esse receio que leva muitas mulheres, com desejo de progredir na carreira, a abandonar a ideia de dar à luz na juventude, esperando por um momento mais tardio para o fazerem ou abandonando mesmo a ideia de ter filhos algum dia.
Uma iniciativa como a da Apple e do Facebook, que vão passar a oferecer gratuitamente o congelamento de óvulos às suas funcionárias, pode, por isso, ser encarada de formas muitos distintas: pode ser vista como um incentivo a quem quiser ter filhos mais tarde ou como uma imposição disfarçada a quem estiver a pensar tê-los agora.
"Darem essa oportunidade às mulheres não é uma má medida, se for dada como uma opção e não como uma obrigação", defende Tânia. Se a sua empresa adoptasse uma medida similar, acredita que olharia para a mesma "com alguma desconfiança", mas também sabe que muitas mulheres encarariam a medida como uma oportunidade.
"Para as mulheres que ambicionam atingir um determinado patamar na carreira e querem focar-se no trabalho enquanto são mais jovens é uma boa iniciativa pois dá-lhes a possibilidade de terem filhos mais tarde", diz. "Mas até que ponto quem não seguir por esse caminho será bem visto? Eu iria sentir-me pressionada".