Projeto internacional mostra similaridade entre espécies e tem participação de investigadores portugueses.
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Conhecer para melhor cuidar. Este é um dos principais objetivos do Visible Ape Project, um projeto financiado pela agência norte-americana National Science Foundation (NSF), que pretende sensibilizar a comunidade para as enormes semelhanças entre a anatomia dos humanos e de símios ameaçados, como o caso dos orangotangos, chimpanzés, gorilas, gibões, bonobos e siamangs. Estes estão entre os seres que são filogeneticamente mais próximos de nós.
O projeto, que arrancou em 2019 pela mão de Rui Diogo, um antigo aluno da Universidade de Aveiro atualmente a investigar e lecionar na academia de Howard, nos EUA, já levou à criação do sítio da Internet www.visibleapeproject.com. Neste endereço eletrónico, acede-se a informação anatómica coligida por uma equipa internacional e multidisciplinar composta por investigadores e estudantes das áreas da anatomia, antropologia e biologia focados na evolução. As universidades de Howard e George Washington lideram o projeto, que conta ainda com a colaboração das universidades de Valladolid, de Barcelona, de Antuérpia e de Aveiro.
Estão a ser desenvolvidos vários modos de visualização da anatomia dos orangotangos, chimpanzés, gorilas, gibões, bonobos e siamangs, além dos humanos. Investigadores, professores, estudantes e público em geral podem usar livremente e interagir com a plataforma. O site disponibiliza informação que permite comparar estruturas anatómicas de diferentes espécies de símios através de um conjunto de ilustrações anatómicas digitais em alta qualidade, fotografias de dissecação, tomografia computorizada (TAC) de corpo inteiro e imagem por ressonância magnética de cérebro de símios adultos, jovens e crias. O conjunto de dados permite produzir inéditas reconstruções da anatomia dos símios, em modo interativo, acessível e em 3D.
Os dados, considera Rui Diogo, "serão de grande utilidade para biólogos evolucionistas, antropólogos e anatomistas comparativos e também para estudantes, professores e público em geral". A ideia é que o projeto continue a ser desenvolvido e leve à criação de novas aplicações que permitam, por exemplo, que veterinários nas florestas africanas consigam ter acesso a "dados sobre a anatomia dos símios quando precisarem tratar animais feridos ou doentes". Também se pretende "sensibilizar" a comunidade em geral para que colabore em ações que visam travar as ameaças a estes primatas.
No projeto colabora Saul Martin, colombiano que escolheu a Universidade de Aveiro (UA) para fazer formação na área da ilustração científica e tem uma bolsa que lhe permite produzir conteúdos até 2022. Depois de reconstituir o sistema esquelético (crânios) e figuração dos símios (cabeça e rosto) através da escultura digital, irá fazer os modelos com o sistema nervoso e circulatório (artérias e veias).
"A informação dos símios está muito restringida às comunidades científicas e esperamos que com este projeto possamos divulgar mais as semelhanças", diz o aluno.
"Protegemos o que conhecemos e gostamos", por isso, este trabalho é um "contributo importante" para a preservação dos símios, "alguns dos quais estão em risco", reforça Fernando Correia, diretor do Laboratório de Ilustração Científica do Departamento de Biologia da UA.
Primata de 30 gramas a mais de 200 kg
Os símios, tal como os seres humanos, pertencem à ordem dos primatas. A maioria dos primatas vive em florestas tropicais e subtropicais dos continentes americano, africano e asiático. O peso deste animais varia bastante, indo dos 30 gramas dos lémures-ratos até mais de 200 quilogramas no caso dos gorilas.
Semelhança genética com o homem
Os gorilas, chimpanzés e outros símios possuem grande percentagem de DNA semelhante aos dos seres humanos. No caso dos chimpanzés, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Wayne, em Detroit, Estados Unidos da América, dizem que chega aos 99,4% de código genético igual ao do homem.
60% estão em risco de extinção
Num estudo publicado no ano de 2017 na revista científica "Science Advances", Alejandro Estrada e os restantes investigadores analisaram as 504 espécies conhecidas de primatas e alertaram que "cerca de 60% das espécies de primatas estão ameaçadas de extinção e cerca de 75% têm populações em declínio".
Exploração Caça e destruição de habitat
A caça, o comércio ilegal, a perda de habitat e a exploração das florestas estão entre as principais ameaças que afetam primatas e outros seres vivos. A União Internacional para a Conservação da Natureza, que avalia as condições de sobrevivência de animais e plantas, indica que existem 7 400 espécies ameaçadas.