O cidadão comum está no centro de novos projetos para inverter a maré de danos marinhos e perda de biodiversidade.
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No arquipélago toscano, os prados marinhos capturam carbono até 35 vezes mais depressa do que as florestas tropicais. As plantas com floração subaquática têm potencial para serem um instrumento essencial na luta contra as alterações climáticas, mas são vulneráveis a perturbações causadas por atividades humanas como o turismo e a pesca. Coordenado a partir de Cork, Irlanda, o projeto de quatro anos Marine SABRES está a reunir pessoas para trabalhar na conservação e restauração dos antigos leitos de prados marinhos da Toscana como uma das suas áreas de foco.
Ártico e arquipélagos
Os efeitos das alterações climáticas estão a ser sentidos nos oceanos de todo o mundo. Com 22 instituições de 11 Estados-Membros, o projeto financiado pela UE irá reforçar a biodiversidade marinha no arquipélago toscano, no Ártico e na Macaronésia (um grupo de quatro arquipélagos vulcânicos no Oceano Atlântico Norte).
Para os prados marinhos que crescem no arquipélago toscano, isso significa estar atento ao impacto do turismo na sua conservação. Numerosos grupos - desde autoridades portuárias a operadores turísticos - estão envolvidos no turismo. O primeiro trabalho do projeto é identificar estes atores-chave, depois discutir com eles opções viáveis e inspirar os residentes locais a envolverem-se.
"A nossa intenção é que os gestores que trabalham nestas áreas possam tomar decisões sustentáveis", diz Emma Verling, que está a coordenar a Marine SABRES no Colégio Universitário de Cork. "E capacitar os cidadãos a envolverem-se mais na conservação da biodiversidade marinha".
Ligações de vida
Um dos principais objetivos do projeto é clarificar como os sistemas económicos, sociais e ecológicos estão interligados.
"Tentamos que pessoas compreendam melhor que estamos a ser sustentados por ecossistemas marinhos", afirma Verling. "O Oceano não é apenas uma coisa bela - existe uma verdadeira ligação entre ele, a nossa saúde e o nosso modo de vida".
Cada um dos três locais reunirá um grupo único para as suas atividades e ajudará as partes interessadas a enfrentar os fatores sociais, económicos e ambientais presentes nas decisões que têm impacto na biodiversidade.
Um segundo projeto na Irlanda está a impulsionar o envolvimento da comunidade com alguns dos cidadãos mais jovens da Europa. Uma sala de aula móvel de alta tecnologia, conhecida como Sala de Aula Remota de Aquicultura (ARC na sigla inglesa), traz uma nova geração de recursos marinhos às crianças das escolas primárias. Faz parte de um esforço para restaurar e proteger os nossos oceanos para as gerações futuras.
Concebido pela Agência Irlandesa de Desenvolvimento do Marisco (BIM) e financiado pela UE, a experiência apresenta auscultadores de Realidade Virtual (RV) permitindo às crianças um mergulho virtual na aquicultura para descobrir os processos de produção de peixe e marisco.
Crianças e aquicultura
A sala de aula itinerante dá vida às paisagens e sons do mar, explicando como o salmão, as ostras e mexilhões são cultivados nas águas irlandesas. Na Irlanda, nenhum ponto fica a mais de 100 quilómetros do mar. E embora muitos dos jovens vivam em comunidades costeiras, geralmente sabem muito pouco sobre aquicultura.
Trinta mil crianças visitaram a sala de aula até agora com ótimas reações.
"A ARC foi espantosa - foi muito divertida", foi como um aluno da Escola Nacional de Shanagolden no Condado de Limerick descreveu a experiência. "Aprendemos tudo sobre os mariscos, a pirâmide alimentar e como os seres humanos afetam os mares e os ambientes costeiros". E ainda: "Os auscultadores de realidade virtual eram fixes".
Ao chegar aos jovens, o projeto espera incutir conhecimento desde cedo e desmascarar os mitos sobre doenças e danos que podem atormentar a indústria aquícola, de acordo com Caroline Bocquel, diretora executiva interina do BIM.
"A ARC é uma oportunidade ideal para sensibilizar os estudantes para o sector da aquicultura e levar às comunidades a história factual e positiva da aquicultura irlandesa", disse Bocquel. "Explicamos que é uma força para o bem que cria empregos com boa progressão na carreira".
Os adultos também estão frequentemente mal informados sobre como funciona a aquicultura e quais são os benefícios dietéticos do consumo de peixe e marisco. Assim, quando as escolas estão de férias, a ARC aparece em festivais de marisco e em eventos de divulgação científica.
Em movimento
Tanto a ARC como o Marine SABRES podem ser ampliados para outras regiões e países.
"Vemos a ARC como um modelo para outras nações europeias para a educação em aquicultura e, em última análise, como parte de uma rede de educação coesa e conectada que conduzirá à compreensão e apreciação dos benefícios da aquicultura sustentável", disse Bocquel. Entretanto, outro projeto financiado pela UE chamado Prep4Blue está também a colocar cidadãos, decisores políticos e empresas no centro da investigação no terreno. Guiada pela ciência social e sustentável, o Prep4Blue, com a duração de três anos, fornecerá aos investigadores ferramentas para envolver as pessoas na recolha de conhecimentos para proteger o Oceano.
Coordenado pelo Instituto Francês de Ciências Oceânicas (IFREMER), incorpora 17 parceiros em oito países.
"O conhecimento está lá», diz a coordenadora da Prep4Blue,. Natalia Martin Palenzuela, "mas de alguma forma não mudamos o nosso comportamento". Todos estes projetos surgem através da ambiciosa Missão da UE Recuperar os nossos Oceanos e Águas, que é um apelo a estarmos à altura do desafio de proteger e restaurar estes ecossistemas até 2030.
É uma ampla base para uma ação ecológica baseada na ciência.
"A Missão pretende aumentar a aceitação do conhecimento científico pelos cidadãos e partes interessadas, incluindo os decisores políticos, os consumidores, o setor económico, etc.", disse Martin Palenzuela.
A investigação neste artigo foi financiada pela UE. Este artigo foi originalmente publicado na Horizon, a Revista de Investigação e Inovação da UE.