"Empresas como a ZTE ou a Huawei são irresponsabilizáveis", diz especialista
O ex-assessor político do presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos, Nathan Leamer, disse hoje em Lisboa, sobre a tecnologia 5G (quinta geração móvel), que "empresas como a ZTE ou a Huawei são irresponsabilizáveis".
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"É muito claro que certas empresas como a ZTE ou a Huawei são irresponsabilizáveis. Nós não sabemos realmente o que está por detrás da 'cortina'", afirmou Nathan Leamer num encontro com jornalistas num hotel em Lisboa.
O ex-assessor de Ajit Pai, antigo presidente da FCC, acrescentou que as empresas chinesas "não têm o mesmo controlo jurisdicional" que existe "nos Estados Unidos, ou mesmo aqui [Europa]", referindo-se à ausência de "padrões de responsabilização".
"E quando estamos a falar de informação vulnerável, a informação mais sensível e íntima que temos nos nossos telefones, que todos vamos usar em aplicações de telemedicina, agricultura ou outras, eu acho que isto levanta algumas questões", aditou.
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É "importante que os decisores políticos aqui, nos Estados Unidos e noutros sítios pensarem criticamente", sob o risco de "se ficar entalado", afirmou Nathan Leamer.
Nesse estado, "os consumidores vão ficar preocupados, os decisores políticos vão ficar preocupados e não terão a capacidade de fazer alguma coisa sobre isso, porque já foi estabelecido o padrão, o modelo, as infraestruturas e eles [empresas chinesas] já terão cinco anos de dados".
"Será mais difícil e hostil desfazer e substituir a infraestrutura, por causa dos protocolos e de tudo o mais que tenha sido desenvolvido debaixo deste modelo. A altura de agir é agora", defendeu o agora vice-presidente da empresa Targeted Victory.
O também ex-assistente legislativo do Congresso norte-americano destacou ainda que "não são apenas os decisores políticos norte-americanos" que têm esta opinião, mas também "os inovadores" do país.
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"Todos conhecem a luta da neutralidade [da Internet] nos Estados Unidos, e como as empresas tecnológicas e de telecomunicações estiveram em lados opostos, republicanos de um lado e democratas do outro. Nisto, esse não é o caso", afirmou.
Nathan Leamer afirmou que no 5G, empresas como "o Facebook, a Google, a AT&T, a Comcast, a Charter [três empresas de telecomunicações]" e "políticos republicanos como o meu antigo chefe [Ajit Pai], políticos democratas como o senador [Mark] Warner" estão todos do mesmo lado.
O também ex-assistente legislativo do Congresso norte-americano afirmou, numa comparação do 5G com a 'corrida espacial' entre a União Soviética e os Estados Unidos na Guerra Fria, não saber "se estamos na fase Sputnik ou da ida à Lua", numa referência às diferentes fases de vantagem tecnológica de cada um dos países no século passado.
"Há um aspeto tecnológico disto que é super importante, a nossa abordagem contra a de países diferentes, mas devido à possibilidade de comercialização desta tecnologia e o que está a ocorrer nesta 'corrida', ao passo que a 'corrida espacial' era mais simbólica. No 5G nós podemos efetivamente usar esta tecnologia", considerou.
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A gigante tecnológica chinesa Huawei tem sido alvo de sanções norte-americanas, uma vez que Washington acusa a empresa de cooperar com a espionagem chinesa, tendo este assunto já se tornado num problema político entre os dois países.
Há duas semanas, num debate no Parlamento Europeu, a Huawei negou "instruções" do Estado chinês para instalar 'backdoors' (portas de acesso) em dispositivos móveis 5G, notando que isso seria "um suicídio" para a empresa.
A Europa é o maior mercado da Huawei fora da China. De um total de 50 licenças que a empresa detém para o 5G, 28 são para operadoras europeias.
Em Portugal, o arranque do 5G está previsto para o próximo ano.