Os drones vão controlar os céus das cidades e Benidorm está a ser usada para testes
Os veículos aéreos não tripulados só entrarão nos céus urbanos se for possível garantir a segurança das pessoas que se encontram nas ruas.
Corpo do artigo
A cidade turística de Benidorm é conhecida pelas suas praias de areia com água cristalina, uma linha do horizonte dominada por hotéis imponentes e turistas do norte da Europa. Todavia, num dia de fevereiro, também serviu de local de teste para o futuro da sociedade europeia em relação aos drones.
Uma vez que a economia local depende do turismo durante o verão, Benidorm está relativamente vazia no inverno - e isso é uma vantagem no que diz respeito à segurança durante os testes com veículos aéreos não tripulados (VANT). Os edifícios altos que dominam a linha do horizonte também não ficam atrás dos de uma grande cidade.
Sol, mar e... sinais de satélite
Resumindo, é o local ideal para testar a nova tecnologia de drones. Um projeto financiado pela UE denominado DELOREAN fez exatamente isso - testou novos tipos de localização por satélite para drones no dia 9 de fevereiro.
"A linha do horizonte de Benidorm é bastante semelhante à que encontraríamos em grandes cidades como, por exemplo, Nova Iorque", afirma Santiago Soley, coordenador do projeto e diretor executivo da empresa de engenharia aeronáutica espanhola Pildo Labs. "De uma forma geral, os regulamentos limitam os voos com drones em áreas urbanas densamente povoadas. Foi a primeira vez na Europa que realizamos este tipo de testes num ambiente citadino desafiante".
Há anos que os drones são uma tecnologia muito publicitada, durante os quais os meios de comunicação social popularizaram as previsões de que essas aeronaves seriam em breve utilizadas para todo o tipo de serviços quotidianos, incluindo a entrega de encomendas à porta de casa. No entanto, até ao momento, ainda não foi possível conseguir a utilização civil generalizada.
O obstáculo é a segurança e a necessidade de demonstrar às administrações municipais que os drones podem ser utilizados em grande número em zonas povoadas sem constituírem um perigo. Se um VANT se despenhar numa rua movimentada ou for contra um avião que está a aterrar ou a levantar voo, pode resultar em danos avultados ou até em mortes.
Os cientistas e as empresas estão agora a abordar estas preocupações - e as experiências em Benidorm podem ser a chave para o sucesso futuro dos drones.
"A tecnologia com drones está a chegar lá - é o menor dos nossos problemas", afirmou Soley. "O mais importante é demonstrar como os drones podem voar em segurança sobre as cidades". O DELOREAN está na sua fase final ao fim de três anos. O objetivo principal era desenvolver requisitos de navegação e posicionamento para serviços aéreos urbanos e mostrar como o sistema global de navegação por satélite europeu, ou GNSS, pode ajudar.
Opções sem GPS
Os drones têm de saber exatamente onde estão a toda a hora. Para tal, atualmente, os VANT dependem dos satélites, sobretudo do sistema de posicionamento global dos EUA, ou GPS. Outra alternativa ao GPS é a rede Galileo da Europa.
O DELOREAN também está a testar o potencial do Galileo para os drones.
Embora liderado pela Pildo Labs, o projeto contou com um consórcio internacional cujos membros incluem o fabricante francês de aeronaves Airbus, o fornecedor espanhol de serviços postais Correos e a Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea, ou Eurocontrol, na Bélgica.
Um desafio para a localização por satélite nas áreas urbanas é o facto de os sinais poderem ser desviados ou barrados pelos edifícios. O Galileo irá ajudar a evitar essas interrupções graças à forma de onda e à estrutura dos seus sinais, de acordo com Soley.
Além disso, o Galileo é pioneiro em novos serviços que poderão localizar os drones com maior precisão - algo que o DELOREAN testou em Benidorm.
Adicionalmente, o Galileo acrescenta uma camada de segurança. Segundo Soley, um serviço de autenticação que permita ao drone verificar se o sinal de satélite é real refutaria quaisquer esforços futuros de grupos criminosos para desviar os VANT e roubar os seus conteúdos através de sinais falsos.
Entrega de parcelas pelo ar
Se as experiências como as efetuadas pelo DELOREAN forem bem-sucedidas, poderão surgir muitas aplicações.
Embora os drones já estejam a ser utilizados nas cidades, são frequentemente utilizados em operações de pequena escala pelas autoridades locais. Por exemplo, os departamentos policiais utilizam-nos para monitorizar multidões ou localizar automóveis em excesso de velocidade.
"Existem limites para voos com drones e é necessário fechar a área", refere Soley. "No entanto, a nível técnico, é muito fácil manobrar os voos".
O próximo passo poderia ser a entrega em massa por via aérea em zonas urbanas. Seria o fim das carrinhas a ziguezaguear pelas ruas das cidades com todos os engarrafamentos e poluição.
Em vez disso, os pacotes seriam entregues pela cidade por frotas de drones. Empresas como a Amazon já utilizam estes serviços em áreas limitadas.
"A logística será, na minha opinião, uma das utilizações mais promissoras dos drones", afirma Soley.
Aeronave autónoma
Um projeto financiado pela UE, denominado LABYRINTH, está a enfrentar o desafio de assegurar que os drones autónomos se localizam uns aos outros.
Os drones autónomos não requerem pilotos humanos no chão, os quais, por norma, são necessários na geração atual de VANT.
"No futuro, esses drones serão operados de forma autónoma - voarão sozinhos", afirmou Luis Moreno Lorente, coordenador do projeto e professor de engenharia de sistemas e automação na Universidade Carlos III de Madrid, em Espanha. "Mas para o fazer em segurança, temos de saber exatamente onde cada um deles está localizado".
O LABYRINTH, que termina em maio após três anos, está a desenvolver software que funciona como um sistema de controlo de tráfego aéreo para drones. A posição 3D de cada um é monitorizada e a aeronave transmite estas informações a outros drones nas proximidades para que não choquem uns com os outros.
Do mesmo modo, se um drone tiver problemas técnicos - por exemplo, se um dos seus motores falhar - tem de ser capaz de afastar dele outros VANT.
"Antes de ser possível desenvolver as entregas por via área em áreas urbanas, primeiro temos de pensar na segurança", declara Moreno Lorente. "É nisso que estamos a trabalhar neste momento".
Em conjunto, o LABYRINTH e o DELOREAN estão a ajudar a preparar o caminho para um futuro no qual um grande número de drones sobrevoará as cidades. "É apenas uma questão de tempo antes que isso aconteça", afirma Moreno Lorente.
A investigação neste artigo foi financiada pela UE. Este artigo foi originalmente publicado na Horizon, a Revista de Investigação e Inovação da UE.