"Padrinho" da IA alerta para que bots vão ser mais inteligentes do que humanos
Um cientista de computação, apelidado de "padrinho da Inteligência Artificial", deixou o seu emprego no Google para falar sobre os perigos da tecnologia. E alerta que, em breve, os bots serão mais inteligentes do que os humanos.
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Geoffrey Hinton, que criou uma tecnologia de base para sistemas de inteligência artificial (IA), disse ao jornal norte-americano "The New York Times" que os avanços feitos no campo representam "riscos profundos para a sociedade e a humanidade". "Veja como era há cinco anos e como é agora. Isso é assustador."
Hinton disse que a competição entre gigantes da tecnologia está a levar as empresas a lançar novas tecnologias de IA em velocidades perigosas, arriscando empregos e espalhando desinformação. "É difícil ver como se pode evitar que os maus atores a usem para coisas más", continuou.
Em declarações à BBC, Geoffrey Hinton considerou os chatbots (software que simula uma conversa) "bastante assustadores". "Neste momento, não são mais inteligentes do que nós, tanto quanto sei. Mas penso que em breve serão", considerou o cientista de computação que trabalhou durante dez anos na tecnológica Google e que é um dos principais responsáveis por programas como o famoso ChatGPT. "Neste momento, o que estamos a ver é que programas como o GPT-4 ultrapassam uma pessoa na quantidade de conhecimentos gerais que têm e ultrapassam-na por muito", defendeu.
"A ideia era de que estas coisas podiam vir a ser mais espertas que as pessoas, alguns acreditavam nisso. Mas a maioria pensava que estava num futuro longe. E eu achei que estava longe. Pensei que demoraria 30 a 50 anos ou ainda mais tempo. Obviamente, já não penso assim", sustentou.
Em 2022, a Google e a OpenAI - a start-up por trás do popular chatbot de IA ChatGPT - começaram a criar sistemas com quantidades muito maiores de dados do que antes. Hinton disse que acreditava que esses sistemas estavam a eclipsar a inteligência humana de alguma forma por causa da quantidade de dados que estavam a analisar. "Talvez o que está a acontecer nesses sistemas seja realmente muito melhor do que o que está aa a acontecer no cérebro", explicou.
Embora a IA tenha sido usada para apoiar trabalhadores humanos, a rápida expansão de chatbots como o ChatGPT pode colocar empregos em risco. A IA "tira o trabalho árduo", mas "pode tirar mais do que isso", garantiu.
O cientista também alertou sobre a potencial disseminação de desinformação criada pela IA, dizendo que uma pessoa deixará de saber "o que é verdade".
Hinton, com 75 anos, mostra-se agora arrependido pelo contributo que deu para o desenvolvimento de uma área com muitos riscos. No artigo no "The York Times", em que fala das razões da sua demissão, o também psicólogo diz: "Consolo-me com a desculpa normal: se não tivesse sido eu a fazer, teria sido outra pessoa". Mas alerta para o perigo de a IA ser usada nas mãos erradas. "É difícil ver como se pode evitar que maus agentes utilizem esta tecnologia para coisas más."
Hinton notificou a Google sobre a sua renúncia no mês passado. Em comunicado, Jeff Dean, principal cientista da Google AI, agradeceu a Hinton. "Como uma das primeiras empresas a publicar os Princípios de IA, continuamos comprometidos com uma abordagem responsável da IA", lê-se no comunicado. "Estamos continuamente a aprender a entender os riscos emergentes enquanto também inovamos com ousadia".
Em março, Elon Musk e vários especialistas pediram uma pausa no desenvolvimento de sistemas de IA para dar tempo de garantir que são seguros. Uma carta aberta, assinada por mais de mil pessoas, incluindo Musk e o cofundador da Apple, Steve Wozniak, foi motivada pelo lançamento do GPT-4, uma versão muito mais poderosa da tecnologia usada pelo ChatGPT. Hinton não assinou a carta na época, mas disse ao "The New York Times" que os cientistas não devem "aumentar [o ChatGPT] até que tenham entendido se conseguem controlá-lo".