A start-up francesa ROSI ganhou o reconhecimento da União Europeia pelos progressos feitos no âmbito do projecto Ramp-PV, financiado pela UE, na reciclagem de matérias-primas a partir de painéis solares em fim de vida útil. A ROSI ganhou o primeiro "Prémio Indústria do Futuro" da UE pela investigação tecnológica apoiada pelo Horizon 2020. O projecto promove a reciclagem de matérias-primas provenientes de painéis solares em fim de vida útil para ajudar a Europa a tornar-se mais ecológica e estrategicamente independente.
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A ROSI, empresa que recicla matérias-primas de painéis solares em fim de vida, acaba de receber o primeiro "Prémio Indústria do Futuro" da UE para a investigação tecnológica apoiada pelo programa Horizonte da UE. Com os 700 mil euros atribuídos pelo programa, o projeto de dois anos promoveu o objetivo da empresa de se tornar líder mundial na reutilização de silício e prata a partir de resíduos fotovoltaicos (FV). A empresa tenciona abrir uma unidade de reciclagem em França no início do próximo ano e expandir-se para a Alemanha, Itália e Espanha.
"Foi o apoio da UE que tornou possível a transição do laboratório para a fábrica", afirmou Parsa em Bruxelas, após receber o prémio em nome da ROSI. "Agora podemos passar à escala industrial".
Combinação perfeita
O projeto, designado Ramp-PV e que termina este mês, vai ao encontro de vários pontos essenciais da política da UE. Num ambiente de tensões geopolíticas acrescidas, promete reforçar a autonomia estratégica da Europa através do aumento da disponibilidade interna de matérias-primas valiosas para as indústrias, incluindo a solar, da eletrónica e das baterias.
Com a redução dos resíduos industriais, o projeto também ajuda a economia europeia a tornar-se mais sustentável ou "circular". Além disso, o Ramp-PV reforça os objetivos climáticos do Pacto Ecológico Europeu. Se por um lado os painéis solares produzem a energia renovável necessária para contrariar o aquecimento global, os seus componentes de silício e prata implicam uma produção intensiva de energia, que é, por si só, uma fonte de emissões de dióxido de carbono.
Além disso, o Ramp-PV contribui para os objetivos europeus de segurança no local de trabalho ao desenvolver processos químicos de baixa temperatura utilizados na recuperação das matérias-primas incorporadas nos painéis solares. A isto acresce o facto de os produtos químicos serem leves e representarem menos perigos, ao contrário dos ácidos, por exemplo.
Jovem campeão
"Precisamos de campeões da mudança e da inovação para que a nossa indústria continue a trazer prosperidade a todos os europeus", diz Mariya Gabriel, Comissária Europeia responsável pela Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, durante a divulgação do prémio. "O desenvolvimento de novas soluções que economizem matérias-primas não poderia ter vindo em melhor altura".
Outros dois projetos distinguidos também pelo primeiro "Prémio Indústria do Futuro", um centrou-se na segurança digital para os fabricantes, particularmente nas indústrias da aviação, indústria automóvel e naval. O outro centrou-se na robótica no fabrico e em formas de melhorar a colaboração homem-robô.
O "Prémio Indústria do Futuro" reconhece projetos financiados pela UE cujos resultados, no entender da Comissão Europeia, "tornam a indústria europeia mais resiliente, sustentável e centrada nos recursos humanos". São elegíveis os projetos iniciados após agosto de 2018.
A ROSI, estabelecida em Grenoble, dava na altura os seus primeiros passos. A empresa foi fundada no final de 2017 e iniciou o projeto Ramp-PV em novembro de 2020. Conta com cerca de 20 funcionários.
Até à data, a ROSI tem vindo a desenvolver os processos e as tecnologias de extração de materiais de grande pureza, como o cobre, a partir de resíduos fotovoltaicos e a reintegrá-los nas indústrias-chave, incluindo a solar.
Quadro de crescimento
No início de 2022, a empresa atingiu a fase de testes de equipamentos industriais e apresentou um plano de criação de uma fábrica perto de Grenoble.
De acordo com Parsa, a unidade francesa irá reciclar três mil toneladas de painéis solares por ano a partir de 2023, extraindo 90 toneladas de silício, 30 toneladas de cobre e 2,5 toneladas de prata, e o número de funcionários da ROSI irá praticamente duplicar nesta fase.
No espaço de dois anos, a capacidade da unidade de reciclar painéis irá aumentar para 10 mil toneladas, disse.
A ROSI irá integrar o silício recuperado novamente em painéis solares, enquanto procura outros potenciais utilizadores para este material, incluindo semicondutores e baterias. O cobre e a prata recuperados serão, provavelmente, utilizados noutras indústrias para além da solar, disse.
Os planos de expansão da empresa para além da França terão início na Alemanha e, posteriormente, estender-se-ão a Itália e Espanha.
"Estamos numa fase bastante avançada na Alemanha, mas negócio ainda não está concluído", acrescentou. "Estamos à procura de parceiros nos três países, uma vez que precisamos da ajuda de intervenientes locais".
Embora se mostre reservado quanto ao calendário preciso da ROSI para os negócios planeados fora de França, Parsa referiu que estes, juntamente com a atividade iminente de reciclagem francesa, teriam uma perspetiva mais distante sem o financiamento do programa Horizonte para o Ramp-PV.
"Se não tivéssemos tido o apoio da UE, não teríamos chegado a este ponto tão depressa como chegámos". disse Parsa. "O Ramp-PV permitiu-nos realizar testes em novos equipamentos e acelerar todo o nosso plano de negócios".
Este artigo foi originalmente publicado na Horizon, a Revista de Investigação e Inovação da UE.