Veículos da FEUP podem ser programados para desempenhar missões autonomamente, mas também para coordenar a equipa.
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Com expedições no Oceano Pacífico no currículo, os veículos desenvolvidos pelo Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) já deram provas suficientes daquilo que são capazes. O verdadeiro trunfo do trabalho da equipa da FEUP é o software: não só permite que sejam programados para desempenhar determinadas missões, mas também para, recorrendo à inteligência artificial, decidirem o que fazer em certas situações e trabalhar em equipa.
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"Por exemplo, dizemos ao veículo para encontrar uma zona em que duas massas de água com características diferentes se encontram. Pedimos para encontrar a frente e segui-la, por exemplo, durante 10 quilómetros. Isso não pode ser pré-programado porque nós não sabemos onde está a frente, nem sabemos como evolui. O veículo tem capacidade de o fazer sem nenhuma intervenção humana", clarificou João Tasso, diretor do Laboratório.
A "grande vantagem", acrescenta o também professor de Engenharia Eletroténica e de Computadores, é que além de ser possível fazer esse tipo de programação com um só veículo, o software permite que todos os equipamentos consigam interagir entre si.
"Tanto submarinos, veículos de superfície ou aéreos. Interagem entre si para executar uma dada missão que pode ser, por exemplo, mapear uma certa zona", acrescentou.
Para já, todas as missões e projetos realizam-se sempre com um barco de apoio tripulado, mas o objetivo é que, no futuro, essas embarcações sejam dispensáveis.
"Tivemos veículos destes na água durante mais de dois dias e a cerca de 40 quilómetros do navio e sem nenhuma interação com eles. E o que liga tudo é o software. Aí, podemos integrar não só os veículos que criamos, mas também os que adquirimos e de outros parceiros", exemplificou.
Recolha de dados
Entre os veículos laranja e amarelo - como mostra a imagem ao lado -, os laranja são utilizados para mapeamento das profundezas. "Andam a cerca de dois, três, quatro metros do fundo. Têm sonares de varrimento lateral, que dão uma imagem acústica", explica João Tasso, clarificando que "com base nos retornos [acústicos], conseguimos ter uma ideia do que está no fundo, do seu relevo".
Os veículos amarelos, por sua vez, são mais utilizados em Oceanografia. São máquinas "mais simples" e custam "dez vezes menos".
"O modo de operação mais natural deles é fazer ioiô no oceano. Vão até uma certa profundidade, voltam à superfície em contínuo. Utilizam sensores como o CTD, que mede condutividade, temperatura e pressão, oxigénio dissolvido, turbidez e outro tipo de parâmetros do oceano, que são muito importantes para a área das ciências do mar", indicou.
Todos os veículos estão programados para subir à superfície se o motor, por algum motivo, parar, e emitir a própria posição GPS.
Drone que descola e aterra na água
O Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da FEUP também já marcou presença no Havai. Com um veículo semelhante a um drone, que descola e aterra na água, é possível tanto "recolher amostras de água como, debaixo de água, através de um modem acústico, comunicar com outros veículos". "É muito parecido com aquilo que os golfinhos fazem. É emitida uma onda, o outro veículo recebe-a, descodifica e eles comunicam", explicou João Tasso. E mesmo que outros veículos estejam no meio do oceano durante vários dias, a tripulação na embarcação pode receber dados perto de tempo real, de hora a hora. "Não recebemos todo os dados, mas os dados que o veículo envia são suficientes para sabermos o que é que ele andou a recolher", referiu o diretor do Laboratório da FEUP.
Utilizar sinais satélite para comunicar com os veículos de barcos tripulados é sempre possível durante as missões, mas não fica barato. "Tentando gastar o mínimo possível, mesmo que só um veículo utilize comunicações satélite, são cerca de cem euros por dia", deu nota João Tasso.