Há quem colecione posters de bandas. E quem guarde religiosamente recortes de jornal sobre atrizes de Hollywood. Benoît Sinthon, na sua juventude, delirava com folhetos de restaurantes, fotografias de pratos, retratos de chefs.
Corpo do artigo
«O meu padrasto tinha muitos almoços de negócios e trazia brochuras dos sítios onde ia. Levava-me o anuário da Relais & Châteaux, que eu folheava como quem lê banda desenhada», conta, num português fluido, não fosse a entoação afrancesada.
A cozinha vem associada a muitas memórias de infância. «Lembro-me da primeira vez que fui a um restaurante gastronómico, o La Mirande (Avignon). Andei a preparar-me dias antes, como quem vai a um concerto.» Frequentava já a escola hoteleira e, por entre as certezas absolutas que se tem aos 17 anos, sabia que queria ser cozinheiro. Antes disso, outra recordação: os fins de semana em casa da avó, em Marselha, que o levava consigo às compras. Compravam peixe fresco, «ainda a mexer», no Vieux Port, e do talho traziam nariz de porco, que coziam em court bouillon, e carne de cavalo, para tártaro. «Depois ajudava na cozinha, descascava cebolas. Quando temos entre os 7 e os 12 anos, é uma coisa que marca, tenho a certeza de que foi isso que me deu a vontade de comer bem.»
Hoje com 39 anos, Benoît já se considera meio madeirense, tanto a nível cultural - fruto de 16 anos a viver na ilha e do casamento
com uma nativa - como a nível gastronómico. «Trabalho muitos produtos locais, há a influência daquilo que como em casa da minha sogra, de almoços com amigos, de conversas com agricultores. O chef tem de olhar sempre para os produtos que tem à sua volta», defende, definindo a sua cozinha como «ligeira, um best of da Península Ibérica», baseada na técnica francesa.
Sinthon descobriu a Madeira em 1994. Trabalhava num château do vale do Ródano e a rececionista portuguesa com quem namorava (e viria a casar) teve de regressar à terra por motivos familiares. Ele foi atrás.
Arranjou trabalho no Reid"s. A propósito de um festival, conhece o chef Jean-Michel Lorain, do La Côte Saint-Jacques, e pede-lhe trabalho: «Nunca tinha passado por um três estrelas, sempre sonhara com isso.» Porém, após dois anos no restaurante borgonhês, surgiu a oportunidade de voltar à ilha e nem pensou duas vezes. Passou pelo Savoy, depois pela Casa Velha do Palheiro, até que, em 2004, aceita o cargo de chef no The Cliff Bay, já de olhos na estrela Michelin, que acabaria por vir em 2008. Questionado sobre eventuais planos para ganhar a segunda estrela, nem hesita: «Sim, nem que seja para manter a primeira.
Os meus chefs sempre me disseram que quando temos uma, temos de olhar para a segunda, para assegurar aquilo que temos.»
HOTEL THE CLIFF BAY
Estrada Monumental, 147, Funchal
Tel.: 291707700; portobay.com
Todos os dias
Preço médio: 62/82 euros (menu),
69/91 euros (lista)