A cozinha entrou na sua vida muito cedo. E cedo entrou o pequeno Hans cozinha adentro, no restaurante da família, avisando: «Um dia vou ser o patrão de todos estes cozinheiros.» A história são os pais que lha contam, porque Hans Neuner, 35 anos e chef do Ocean há cinco, já não se recorda.
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A sua formação começou aos 14, seguindo os passos da mãe, do pai, do irmão, do avô, todos eles chefes de cozinha. «Desde logo percebi o stress a que um cozinheiro está sujeito, há quem pense que isto é uma vida de celebridade, mas é um trabalho bem difícil e ter aprendido isso de antemão tornou as coisas muito mais fáceis.» O chef austríaco chegou a Portugal em 2007, com uma missão clara: liderar a cozinha do restaurante gourmet do hotel Vila Vita Parc e pô-lo no mapa das estrelas Michelin.
Na bagagem trazia os dez anos que trabalhou com o consagrado Karlheinz Hauser, no Lorenz Adlon (Berlim, **) e no Seven Seas (Hamburgo, *), bem como a passagem pelo Tristán de Gerhard Schwaiger (*), em Maiorca. Bastou-lhe um par de anos para cumprir o objetivo estipulado. Já a segunda estrela, ganha em 2011, apanhou-o de certo modo desprevenido. «A partir do momento em que somos chefs, é claro que queremos ser bons naquilo que fazemos, mas nunca esperei conseguir as duas.»
Recebeu a notícia por telefone, a meio do serviço de jantares. À mesa, os clientes estranharam decerto a gritaria vinda da cozinha. «Foi esmagador, uma loucura!» Celebrou até ser dia, com o seu amigo Dieter Koschina, chef do Vila Joya e também ele detentor de duas estrelas Michelin.
No que ao trabalho diz respeito, o galardão não veio alterar nada. «Diria que é uma maior responsabilidade, mas, bem vistas as coisas, recebemos a segunda estrela pelo nosso trabalho no ano anterior, portanto, só temos de continuar como temos feito até aqui.» Segue--se a pergunta inevitável: A terceira estrela é um objetivo em vista? Neuner prefere não comentar. «É algo que um chef não deve dizer.» Esconde-se por detrás de um riso comprometido.
«Importa continuar a fazer o que fazemos e tentar melhorar.» O mar, sempre à vista tanto no terraço como na sala, é uma presença assídua na cozinha de Neuner, fã confesso da culinária nacional, com a cataplana e a feijoada no topo das suas preferências. Nos menus, que faz questão de mudar semanalmente, os produtos locais merecem lugar de destaque. Defende, contudo, que fazia falta um empurrãozinho: «O mundo precisa de saber mais sobre a comida e as tradições portuguesas.» E assume a sua responsabilidade
na matéria como incumbência da profissão: «Importa manter um nível elevado de qualidade no Ocean, para mostrar ao mundo os produtos magníficos que temos em Portugal.
Estou sempre a dizer às pessoas que têm de vir cá, para conhecerem aquilo que temos de bom.» «Temos», como quem diz «nós».
HOTEL VILA VITA PARC
R. Anneliese Pohl, Alporchinhos, Porches (Lagoa)
Tel.: 282310100; vilavitaparc.com
De quinta a segunda
Preço médio: 95/125 euros (menu),
80/98 euros (lista)