
Manuel de Sousa
Ranking da Time Out Worldwide coloca a rua do Bonjardim, no centro da Invicta, entre os trechos de vida urbana mais vibrantes, onde moradores e visitantes convivem em harmonia.
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Quem conheceu o Bonjardim há algumas décadas e deixou de andar pelo Porto desde então questionará esta notícia: a comprida e estreita rua que sobe do entroncamento da rua de Sá da Bandeira até à praça do Marquês de Pombal é a terceira mais "cool" do Mundo, segundo a edição internacional da "Time Out".
Quer isto dizer que está entre os "trechos de vida urbana mais vibrantes do Mundo, onde moradores e visitantes jantam, exploram e divertem-se".
A antiga estrada de Guimarães era uma rua residencial na sua primeira metade e era, admitamo-lo, um ermo de velhos tascos que serviam a clientela das garagem dos autocarros vindos de fora da cidade, instaladas em Guedes Azevedo, uma sucessão de montras embaciadas pela gordura das bifanas a fritar em tacho gigantescos junto às janelas e dos frangos a assar alio mesmo.
Era, também, a triste traseira do Palácio dos Correios, construído em meados do século XX, apenas animada por lojas e restaurantes que nos habituamos a ver desde sempre e que também vimos morrer. Era, enfim, a via que arrancava na belíssima Brasileira, atravessava-se diante do Teatro Rivoli e da praça D. João I do primeiro arranha-céus da cidade, subia Porto acima até se livrar do comércio e ser apenas a estrada de Guimarães.
É a rua do Ginjal, a rua das primeiras francesinhas de sempre numa Regaleira que foi destruída para se tornar outra, a rua onde se ia aos discos. A rua de uma Conga à moda antiga e do cheiro a café da Casa Januário. A rua do bacalhau seco pendurado à porta da Casa Lourenço e do bruaá das conversas num Antunes que também já foi transformado. A rua da esquina do Big Ben com as vidas noturnas de Gonçalo Cristóvão e as que seguiam por ali acima. A rua que se entregava ao frondoso marquês da igreja mais altaneira do Porto.
Um total de 1,6 km de rua simples, muitas vezes suja, muitas noites triste e escura, que não se frequentava por especial prazer. Pois o turismo fez dela uma coisa para muitos irreconhecível, ainda que mantenha, aqui e ali, o ar triste que a define.
Diz a Time Out que o Bonjardim "tem tudo o que é preciso para se tornar numa das próximas áreas obrigatórias de visitar: porta atrás de porta, novos e velhos negócios acrescentam cor e caráter" à artéria, que reúne "mercearias à moda antiga e restaurantes lendários, famosos pelas suas bifanas".
A lista anual das "Coolest Streets in The World" é elaborada com base nas escolhas dos editores locais da revista, que selecionam a sua rua de eleição. À equipa de viagem internacional cabe eliminar sugestões até chegar à classificação final, com base em critérios (gastronomia, copos, diversão, arte, cultura, vida noturna e sentido de comunidade) que fazem dos sítios "lugares para viver e explorar".
"Longe de serem plataformas de hipsters, estas ruas contam a história das suas cidades, agregando exatamente aquilo que as torna tão únicas", explica Grace Beard, editora de Viagens na Time Out.
O Ranking é encabeçado pela rua do Senado, no Rio de Janeiro (a primeira sul-americana a entrar na lista), seguida da Orange Street, em Osaka, Japão.
Seguem-se ao Bonjardim as ruas Fanghua, em Chengdu (China), Sherbrooke Street West, em Montreal (Canadá), Montague Road, em Brisbane (Austrália), Maybachufer, em Berlim (Alemanha), Olympu, em Salónica (Grécia), Orchard, em Nova Iorque (EUA), e Vinh Khanh, em Ho Chi Minh, (Vietname).

