Fica apenas a cinco quilómetros da Praça de São Marcos, o principal ponto turístico da sobrecarregada Veneza, e o seu bucolismo aparente é apenas isso mesmo, aparente. A ilha abandonada de Poveglia mudou de mãos por uma boa causa.
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Após rumores de que investidores privados estariam prestes a adquiri-la, cerca de 4500 habitantes de Veneza juntaram-se e propuseram ao Governo italiano comprar Poveglia. Não conseguiram, mas viram ser-lhes dada autorização para a arrendar.
O que à partida parecia apenas utopia, acabou por transformar-se em realidade. Por um período de 99 anos, populares vão tomar conta da ilha a troco de 460 mil euros.
Ou seja, dividindo o valor por todos os meses do contrato, tal corresponde a escassos 387 euros mensais, menos de um euro por cada um dos subscritores.
"Foi um choque psicológico perceber que Veneza poderia ser fatiada e transacionada sem preço mínimo ou qualquer planeamento. Seria como se Roma decidisse vender a Fontana di Trevi", explicou à CNN Patrizia Veclani, criadora do movimento Poveglia para Todos.
O objetivo dos novos inquilinos é utilizarem Poveglia como destino de refúgio para fugir ao massivo número de turistas que todos os anos visitam Veneza, qualquer coisa como 30 milhões de pessoas, de acordo com dados oficiais. E desfazer mitos que durante décadas a tornaram falada pelas piores razões.
O local, que não tem mais do que 7,51 hectares, alberga o esqueleto de um hospital, encerrado desde 1968, para onde eram enviados doentes mentais e pacientes com peste bubónica que chegavam nos navios mercadores que acostavam em Veneza.
Reza a lenda que os espíritos das centenas de pessoas que ali morreram ainda hoje assombram quem visita a ilha para a conhecer de perto. E que o solo é composto por restos das vítimas.
Ao invés de afastar curiosos com tamanha fama negativa, a verdade é que Poveglia foi chamando cada vez mais turistas, atraídos pela curiosidade quase mórbida de querer pisar um espaço que ficou para o imaginário pelas piores razões.
O acordo que selará a propriedade pública de Poveglia será assinado esta sexta-feira, dia 1 de agosto.
"Manter este pequeno espaço apenas para os venezianos é uma vitória", classifica Patrizia Veclani.
O primeiro passo dos novos inquilinos está definido: construir um parque verde cuja entrada futura será assegurada apenas a moradores de Veneza.