Desinformação e pirataria: equipa secreta israelita influenciou mais de 30 eleições
Uma teia de disseminação de informações falsas, ataques informáticos e sabotagem para influenciar mais de 30 eleições em todo o mundo. Parece argumento de filme, mas são atividades desenvolvidas por uma equipa israelita, segundo uma investigação de jornalistas infiltrados que se fizeram passar por clientes.
Corpo do artigo
"Equipa Jorge" é o nome de código de uma unidade israelita que reivindica o envolvimento encoberto em 33 eleições presidenciais, revela esta quarta-feira um grupo de jornalistas que se fizeram passar por potenciais clientes com o objetivo de recolher informações sobre os seus métodos e capacidades.
A investigação identifica Tal Hanan como líder desta equipa. É um ex-agente das forças especiais israelitas de 50 anos, que se vangloriou por ser capaz de controlar contas supostamente seguras nas redes sociais, milhares de contas falsas e de fabricar histórias noticiosas. Atividades desenvolvidas sem ser detetado durante mais de duas décadas.
Um dos principais serviços que apresenta é um sofisticado pacote de software - Advanced Impact Media Solutions, ou Aims - que controla milhares de falsos perfis de redes sociais no Twitter, LinkedIn, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e YouTube. Alguns têm mesmo contas Amazon com cartões de crédito, carteiras de bitcoin e contas Airbnb.
"Os métodos e técnicas descritas pela equipa Jorge levantam novos desafios para as grandes plataformas tecnológicas", escreve o britânico "The Guardian".
"As provas de um mercado privado global de desinformação destinado a eleições também farão soar sinais de alarme para as democracias de todo o mundo", acrescenta.
A três repórteres infiltrados, o líder da "Equipa Jorge" disse que os seus serviços estavam disponíveis para agências de inteligência, campanhas políticas e empresas privadas que pretendam manipular secretamente a opinião pública.
"Estamos agora envolvidos numa eleição em África. Temos uma equipa na Grécia e uma equipa nos [Emiratos]. [Concluímos] 33 campanhas a nível presidencial, 27 das quais foram bem sucedidas", disse, citado pelo "The Guardian".
Quando confrontado com a investigação, Tal Hanan não respondeu a perguntas detalhadas sobre a "Equipa Jorge" e os métodos utilizados, dizendo apenas: "Nego qualquer ato ilícito".
A investigação foi realizada por um consórcio de jornalistas de 30 países, incluindo do "Le Monde" em França, "Der Spiegel" na Alemanha e "El Pais" em Espanha, sob a direção de uma organização sem fins lucrativos com sede em França conhecida como Forbidden Stories.
Outros casos: Cambridge Analytica e Pegasus
Os métodos da "Equipa Jorge" agora revelados trazem à memória a empresa de consultoria britânica Cambridge Analytica, alegadamente utilizada para desenvolver software para influenciar os eleitores a votarem em Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA em 2016.
O grupo recolheu e explorou os dados pessoais de 87 milhões de utilizadores do Facebook, aos quais a rede social lhe tinha dado acesso, o que conduziu a multas e processos judiciais.
Uma investigação conduzida pela Forbidden Stories, em 2021, revelou que o poderoso spyware Pegasus de fabrico israelita tinha sido vendido pela empresa de inteligência cibernética, NSO Group Technologies, a governos e utilizado contra, pelo menos, 50 mil pessoas em todo o mundo.
A Forbidden Stories é uma plataforma de colaboração criada em 2017 por iniciativa do jornalista e documentarista francês Laurent Richard, com o apoio de Repórteres Sem Fronteiras, e reúne mais de 30 meios de comunicação social de todo o mundo.