O registo cardíaco que Cláudia Costa, de 39 anos, fez no dia em que em que perdeu o bebé no Hospital da Guarda, há cerca de um mês, já está nas mãos do Ministério Público.
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Mal arrancou a investigação judicial, o conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) informou o Ministério Público (MP) que não encontrou o registo, mas referia-se apenas ao que a então grávida efetuou na véspera de perder aquela que seria a sua primeira filha. Registo que foi monitorizado pela diretora do serviço de obstetrícia e que, tal como o que foi encaminhado para o tribunal atestava a vida do feto.
Não tendo sido localizado no hospital, o documento pode vir no entanto a ser junto aos autos, na medida em que foi reproduzido na caderneta pessoal da parturiente. Aliás, a informação foi comunicada por Cláudia Costa à procuradora titular do inquérito durante o interrogatório formal a que já respondeu.
De resto, o MP aguarda não só o relatório final da autópsia ao feto, como se prepara para pedir um parecer médico ao Instituto de Medicina Legal (IML).
Já se sabe que a grávida terá sofrido um descolamento da placenta, mas os investigadores querem apurar de fonte certa se, a ter havido assistência imediata, a bebé teria sobrevivido e, em função da resposta, deduzir ou não acusação contra o hospital e contra os médicos que, no passado dia 16 de fevereiro, estavam de serviço à urgência obstétrica.
"Fui atendida primeiro"
Nas próximas semanas, o Ministério Público vai também ouvir o depoimento de Nikky Santos, de 26 anos, e do marido Sérgio Ferreira de 25, residentes na Guarda, por terem presenciado o sofrimento da mulher que conheceram há um mês na sala de espera do hospital da Guarda.
Nesse dia, o casal chegou à urgência obstétrica às 9.48 horas e inscreveu-se numa consulta de internamento, quando Cláudia Costa já efetuava o registo dos batimentos cardíacos do feto.
Algum tempo depois, não sabe precisar quando, a grávida que esperava pela consulta de internamento foi chamada pelo médico José Coelho que não quis decidir sozinho a indução do parto pretendida pelo casal e pediu que esperasse pela colega. Aparentemente a outra médica de serviço, Mónica Reis, tardava em aparecer e Cláudia Costa continuava a marcar passo.
"Por incrível que pareça, fui atendida primeiro quando havia ali uma urgência e eu apenas aguardava por uma simples consulta de internamento", constatou Nikky. E, terá sido neste impasse de hora e meia que, às 37 semanas de gestação, Cláudia sentiu uma dor forte seguida de hemorragia e da ecografia que confirmou a morte do feto. Ainda de luto, Cláudia Costa e o marido preferem continuar em silêncio.