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A viagem do JN pelos distritos da Região Norte tem sido muita pedagógica para os jornalistas desta casa destacados no terreno. Todos eles regressam com saudades de um país que tem pouco a ver com a vertigem da informação pronta a ser servida com que, por vezes, somos sufocados nas Redações. E nos distanciam das realidade nuas e cruas, sejam elas positivas ou negativas. Desde fevereiro, no distrito de Braga, até hoje, quando já calcorreamos Viana do Castelo, Vila Real, Bragança e Aveiro, que as edições em papel e digitais do JN contam histórias que os nossos olhos viram e estilhaçam todos os ensaios clínicos que minuto após minuto varrem o espaço mediático e o transformam numa autêntica gaiola de loucos.
Os rostos que polvilham as histórias que descobrimos nesta peregrinação pelo Portugal profundo são geralmente os de gente que não se bate por nenhum mediatismo. Gente que tem ainda em comum uma incrível disponibilidade para inesperados heroísmos.
Para essa gente, o défice, a austeridade, os cortes sociais ou a sobrecarga dos impostos não são uma métrica abstrata. Que pode ser ajeitada à medida da discussão política sem modelo de virtudes públicas e constantemente inquinada pelo deve e haver dos oportunismos.
Este Portugal real de que vos estou a falar há de um dia pedir contas ao País virtual, que capturou o espaço público a golpes de cinismo político.
As sínteses dos jornais televisivos do início da tarde de ontem, são, em si mesmas, a imagem do que é a tal gaiola de loucos.
Vejamos.
A Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento contabiliza uma tremenda derrapagem do défice, nada menos de oito por cento no primeiro trimestre, mas não vê aí nenhuma ameaça prática ao cumprimento da meta anual, que é de 5,5 por cento.
Mário Soares avisa Cavaco Silva que o Povo está a perder a paciência e pode tornar-se perigoso e, ao mesmo tempo, acha que o responsável e escrupuloso António José Seguro é um titubeante só porque não alinha a sua estratégia política com as impaciências da rua.
O Provedor de Justiça acha que eleições antecipadas é que era bom e no mesmo dia das autárquicas seria ainda melhor, presume-se que pela poupança. Mas ignora que uma coincidência dessas seria uma bomba nos autarcas que, sendo dos partidos que sustentam o Governo, merecerão ser eleitos.
Até o sistema informático dos tribunais administrativos enlouqueveu: para confirmar uma assinatura são precisos 11 cliques.
O problema é que tudo isto não é o problema deste ou daquele - e todos nós temos a nossa dose de loucura -,mas sim o problema do modelo de informação que nos querem fazer consumir.
Como se fosse o único.