As obras na maternidade do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com início previsto para 1 de agosto, ainda não começaram. A informação foi avançada, esta quarta-feira, no Parlamento, pela ex-diretora de obstetrícia, Luísa Pinto. Sete médicos de obstetrícias já se demitiram em discordância com o processo.
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“As obras não começaram. [O local do bloco de partos] Tem algumas cadeiras e resto de material de outras obras. Tenho fotografias para mostrar, ainda nada aconteceu”, afirmou Luísa Pinto, durante uma audição, a requerimento do Bloco de Esquerda, sobre as demissões de médicos especialistas em obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.
A ex-diretora de obstetrícia informou ainda que existiu mais “uma” demissão de um médico especialista – após a saída de seis obstetras no dia 6 de Setembro -, admitindo “uma forte possibilidade de haver mais rescisões”, disse.
Luísa Pinto explicou ainda que recusou o convite para voltar a assumir interinamente o cargo porque não foi dada a possibilidade do regresso de Diogo Ayres Campos ao Departamento de Medicina de Reprodução. “Não me revejo com o diretor interino, não me revejo no seu projeto. Seria impossível pactuar com a demissão de Aires de Campos. Propôs ficar com a direção do departamento mas não foi aceite”, disse aos deputados.
A ex-diretora de obstetrícia revelou também que, no regresso de férias, foi-lhe negada a entrada no parque de estacionamento. “Uma enorme falta de respeito para quem há 30 anos está naquele serviço e dar tudo por aquele serviço”, considerou.
Recorde-se que a saída do Diretor do Departamento de Obstetrícia-Ginecologia e Medicina de Reprodução, Diogo Ayres Campos, e da diretora do Serviço de Obstetrícia, Luísa Pinto, no dia 19 de Junho, foi resultado de divergências com o Plano de Reorganização para a área de Obstetrícia na região de Lisboa, aprovado pela Direção Executiva do SNS e apoiado pela administração do Hospital.
Falta de organização e de segurança
Segundo a médica, as demissões propiciaram-se após o início do processo de transição do hospital de Santa Maria para o Francisco Xavier "sem planeamento adequado e sem acautelar as condições necessárias”. “Esta atitude de demitir a chefia de uma equipa que está a trabalhar em pleno levou a uma sensação de profundo desrespeito. Houve uma desconsideração pelos profissionais de saúde”, acrescentou.
A falta de organização no serviço depois das demissões e de segurança, com a composição das equipas abaixo dos mínimos legislados, também contribuiu para a decisão dos sete médicos. A médica explicou que, neste momento, as equipas cingem-se a “de dois a três” especialistas, quando o mínimo seriam “quatro”. “Existem equipas chefiadas por elementos que têm menos três anos de especialidade”, denunciou.
Luísa Pinto disse também que as escalas de urgência “estão a sair com tês dias de antecedência” o que “leva a uma total incapacidade da vida pessoal dos médicos”. A médica lamentou ainda a “ausência de um documento escrito sobre a transição” para o Hospital Francisco Xavier.
Quanto à solução encontrada pela Direção Executiva do SNS “Nascer em Segurança”, para promover a segurança das grávidas, a médica volta a deixar críticas. “As únicas previsibilidades que temos são dos encerramentos. As grávidas gostariam de saber onde é que vão ter os partos e com que equipas, notou.