"Não é tempo de aventuras, experimentalismos ou tiros no escuro", afirmou Marques Mendes no anúncio da candidatura às presidenciais, em Fafe. Revelou ainda que entregou esta quinta-feira o cartão de militante do PSD para mostrar "isenção". E deixou recados a Gouveia e Melo.
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"Tudo ponderado considero que, com a experiência e os conhecimentos que adquiri ao longo da vida, posso vir a ser útil ao país", defendeu o ex-líder do PSD, que lembrou conhecer bem o poder local e o central, bem como a Presidência da República, onde é conselheiro de Estado.
Sublinhando ter um percurso do qual se orgulha, o antigo ministro afirmou que, "no momento em que tantas interrogações se colocam sobre a política e tantos parecem interessados em esconder que fazem política", se sente "confortado pela forma íntegra como sempre a exerceu".
"A experiência não é tudo mas só a experiência garante segurança e previsibilidade", prosseguiu, notando ser este "um mundo cada vez mais incerto, instável e inseguro", com uma Europa "cada vez mais economicamente estagnada e politicamente frágil" e, no plano nacional, "um Parlamento mais polarizado, dividido e fragmentado do que nunca". Neste contexto que descreveu, diz que a experiência política "passou a ser decisiva".
Estes argumentos serviram a Marques Mendes para deixar um recado a Gouveia e Melo, com o candidato apoiado pelo PSD a defender que "o cargo de presidente da República é eminentemente político. Assim sendo, deve ser exercido por quem tem experiência política".
"Quero ser presidente de todos os portugueses", afirmou ainda o candidato a Belém, prometendo respeitar e tratar todos "de forma igual". "Por isso também, hoje mesmo, entreguei o meu cartão de militante do PSD. Não por renegar origens e convicções. Isso nunca farei. Mas, para num ato simbólico, reafirmar o meu compromisso com uma magistratura de isenção, independência e imparcialidade".
Contra estratégias securitárias
No campo das ideias destacou-se o tema polémico da segurança. "Um país seguro é um grande ativo nacional. Para o garantir não precisamos de estratégias securitárias, mas precisamos de forças de segurança motivadas e de um debate sobre segurança informado e rigoroso", alertou Marques Mendes.
Afastou autarcas há 20 anos
Na apresentação da candidatura, Marques Mendes reafirmou o que já tinha adiantado no seu comentário da SIC, destacando como principais linhas a estabilidade, para que o país não ande sempre em eleições antecipadas, mais ambição e ética. Esta quinta-feira destacou ainda "o desafio da segurança, em especial a segurança em torno do Estado social".
No domínio da ética, recordou que, há 20 anos, decidiu afastar alguns autarcas do seu partido (como Valentim Loureiro e Isaltino de Morais). Agora, diz que "é preciso ir mais longe" e "reavaliar as leis eleitorais, alterando o método de escolha dos deputados", bem como "rever o funcionamento dos partidos". Também o Parlamento deverá ter "instrumentos para poder suspender deputados que têm comportamentos desviantes e eticamente censuráveis", defendeu Mendes, pedindo também "mais cuidado na escolha de titulares de cargos públicos, sejam diretores-executivos, gestores ou políticos." A propósito diz que "a situação que há anos se vive em Portugal não é aceitável". Isto surge quando o Governo sofreu a sua primeira demissão, de Hernâni Dias, quando dois deputados do PSD foram acusados no processo Tutti Frutti, e também o Chega enfrenta polémicas com figuras de peso do partido.
Construir pontes e evitar crises políticas
Marques Mendes afirmou depois que o presidente da República "tem de ser um construtor de pontes em favor da estabilidade e do progresso coletivo". "É preciso evitar crises políticas, não podemos passar o tempo em dissoluções e eleições antecipadas. Isso não é modo de vida. É necessário ultrapassar impasses e bloqueios: na economia, na saúde e no combate à corrupção", defendeu, notando que cabe ao Governo e aos partidos resolvê-los. Mas o presidente da República "tem de dar o seu contributo ativo, fazendo pontes, aproximando posições, buscando convergências, mediando consensos e estimulando entendimentos".
O combate à pobreza, sobretudo "a pobreza empregada", a criação de riqueza, justiça e corrupção foram outras prioridades apontadas, bem como "a causa do apoio à imigração regulada, do incentivo à natalidade e o combate à violência doméstica.
Autarca do PS apoia
A sessão contou uma intervenção do presidente da Câmara de Fafe, Antero Barbosa, recandidato às próximas autárquicas pelo PS, que assumiu o seu apoio a Marques Mendes, notando que Portugal precisa de uma pessoa com o seu perfil e valores na Presidência da República. Esteve também presente o autarca de Braga, o social-democrata Ricardo Rio, e os ex-ministros Silva Peneda e Miguel Macedo, que foi secretário-geral de Mendes quando era líder do PSD.