Comboio abalroa camião no Fundão: “Uma das carruagens parecia estar toda sob fogo”
Os passageiros que seguiam no comboio Intercidades que abalroou, na quarta-feira, um camião na Linha da Beira Baixa, no Fundão, relataram que sentiram um forte estrondo, antes de se aperceberem de um incêndio e abandonarem as carruagens. Quatro pessoas ficaram feridas.
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Pouco depois de entrar no Fundão, Teresa Mira, de 65 anos, estava “nem há cinco minutos” no comboio quando ouviu “um estrondo" e viu muito fumo. “O jovem que ia ao meu lado disse 'temos de sair, temos de sair, temos de sair'”, contou à agência Lusa a passageira do Intercidades que a devia levar a Vila Franca de Xira.
O comboio, que partiu da Guarda com destino a Lisboa, circulava com 125 pessoas, entre passageiros e funcionários, quando colidiu pelas 20 horas de hoje com um veículo pesado na passagem de nível de Alpedrinha, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco.
Depois do embate, a viatura incendiou-se e o fogo alastrou-se a uma duas carruagens do comboio, de acordo com os relatos de passageiros e das autoridades no local, num incidente que causou quatro feridos ligeiros. Teresa Mira contou ainda o susto enorme que apanhou com o incidente, acrescentando que a sua mala terá ardido, pois “seguia na primeira carruagem que ardeu”.
"A viagem mais atribulada em quatro anos”
Também Rodrigo Bento, de 22 anos, estava numa das carruagens afetada pelo incêndio que mobilizou para o local quase duas centenas de operacionais na noite de hoje, tendo relatado um “tremer por todo o lado” e repetidos gritos de alerta para fogo. “A reação foi ir para a porta e sair. Inicialmente estavam trancadas, fizemos alguma força para as abrir. Uma das carruagens parecia estar toda sob fogo”, realçou o estudante de Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior, que seguia da Covilhã para o Entroncamento (Santarém).
Apesar de ter vivido a “viagem mais atribulada em quatro anos”, o estudante frisou ainda que voltou ao comboio para retirar todos os seus pertences. Com o embate, começou na viatura um incêndio que se alastrou à quarta e quinta carruagens.
Tragédia evitada
O comandante dos Bombeiros Voluntários do Fundão, José Sousa, sublinhou que, devido aos poucos danos nas carruagens, foi possível aos passageiros abandonar o comboio e evitar uma tragédia. “Partimos algumas janelas e através do exterior foi possível dominar o incêndio, mesmo contra as condições de segurança, que não existiam, por a catenária estar ainda em carga, só passado uma hora e 50 minutos, é que tivemos autorização para intervir em segurança”, contou ainda, sobre o combate ao fogo. José Sousa destacou também que, apesar de alguma ansiedade nos passageiros, foi possível realizar a resposta adequada, elogiando a “articulação e mobilização” de meios de socorro e policiais de toda a região.
Também o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, destacou que, apesar do “aparato e grande violência” do acidente, evitou-se uma “tragédia maior”. “A questão central foi não ter havido o descarrilamento do comboio, que podia resultar num grande numero de sinistrados. (…) Se tivesse ficado alguém preso também estaríamos a lamentar com outro nível de gravidade”, referiu.
De acordo com o mais recente balanço das autoridades no local, o acidente provocou quatro feridos ligeiros, transportados ao Hospital da Covilhã, e algumas pessoas foram assistidos no local, incluindo um bombeiro que combateu as chamas. Paulo Fernandes destacou que a triagem foi realizada um a um entre os passageiros, e após recontagens descartou-se a existência de desaparecidos.
A vila de Alpedrinha registou hoje uma noite de muita agitação, com dezenas de veículos de socorro a circularem entre o centro da localidade e o local da colisão. Além disso, os passageiros faziam fila, uns com as suas bagagens, mas muitos sem elas, para entrarem em autocarros e seguirem as suas viagens após o susto.
A autarquia do Fundão disponibilizou autocarros para os passageiros que pretendiam regressar ao local de partida, enquanto a CP colocou à disposição autocarros para transportar pessoas para a Lardosa (Castelo Branco), onde podem apanhar um Intercidades e seguir o trajeto em direção a Lisboa.