Português morre a defender polícias de ataque com faca em França. Macron fala em "ato de terrorismo"
Um homem de 69 anos, de nacionalidade portuguesa, morreu e dois polícias ficaram gravemente feridos num ataque com faca no leste de França, este sábado, ocorrido durante uma manifestação.
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O ataque na cidade de Mulhouse aconteceu pouco antes das 16 horas locais (15 horas em Portugal continental) durante uma manifestação de apoio à República Democrática do Congo, que enfrenta uma ofensiva, no leste, do movimento armado M23, apoiado pelo Ruanda..
A unidade nacional de procuradores antiterroristas de França (PNAT), que assumiu o comando da investigação, disse que o suspeito atacou primeiro os polícias municipais, gritando "Allahu Akbar" ("Deus é grande"). Testemunhas confirmaram, em declarações à AFP, que o suspeito gritou por diversas vezes as palavras utilizadas pelos muçulmanos como exclamação da sua fé. Um civil que passava no local e interveio, foi atacado e morreu.
De acordo com a imprensa francesa, a vítima mortal é um homem português de 69 anos. Além dos dois polícias que ficaram em estado grave, mais três polícias ficaram feridos sem gravidade. Um dos polícias gravemente feridos sofreu uma lesão na artéria carótida, e o outro no tórax. O Ministério dos Negócios Estrangeiro confirmou à agência Lusa a morte do português.
"Um cidadão português de 69 anos que se encontrava no local ter-se-á interposto entre os polícias e o atacante, tendo sido esfaqueado e morto", disse a porta-voz do MNE à Lusa, acrescentando que "ficaram feridas outras cinco pessoas, incluindo os polícias [dois deles feridos graves]".
"O agressor, já conhecido pela polícia e pelos serviços de investigações, foi detido", salientou ainda o MNE, acrescentando que "a investigação foi assumida pela Procuradoria Nacional Antiterrorismo (PNAT), o que indica que se trata de um ataque terrorista de inspiração islâmica radical", e que "a embaixada continua a acompanhar o caso".
O ataque foi levado a cabo por um suspeito de 37 anos que está numa lista de vigilância para prevenção do terrorismo, disse o procurador Nicolas Heitz, em declarações à AFP. A lista, denominada FSPRT, compila dados de várias autoridades sobre indivíduos com o objetivo de prevenir a radicalização "terrorista". Foi lançado em 2015 após ataques mortais aos escritórios da revista satírica Charlie Hebdo e a um supermercado judeu.
Segundo o jornal regional "Les Dernières Nouvelles d'Alsace", o ataque ocorreu entre a Praça do Mercado e a Rua Lavoisier, onde foi detido o suspeito, um homem nascido em 1987 e expulso de França. Segundo fontes sindicais, o suspeito, nascido na Argélia, está sob supervisão judicial e prisão domiciliária.
"O horror tomou conta da nossa cidade", disse a presidente da Câmara de Mulhouse, Michele Lutz, no Facebook. O incidente estava a ser investigado como um ataque terrorista, disse, mas "isso obviamente ainda tem de ser confirmado pelo poder judicial".
O presidente francês, Emmanuel Macron, falou de um "ato de terrorismo" e "islâmico", expressando, à margem de uma visita ao Salão Agrícola de Paris, "a solidariedade de toda a Nação".
O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, dirigiu-se ao local do atentado no sábado à noite, numa altura em que a França continua em alerta máximo devido a ameaças extremistas. “Mais uma vez, é o terrorismo islâmico que ataca e, mais uma vez, os distúrbios migratórios estão na origem deste ataque”, afirmou o ministro no noticiário do canal TF1, referindo que "é altura de estabelecer um equilíbrio de forças".
Já a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, defendeu que este ataque é uma “recordação dramática de que a guerra contra o terrorismo não será ganha com palavras, mas com atos”. “O Estado deve dar provas de uma determinação inabalável nesta batalha vital: controlo das nossas fronteiras, perda sistemática da nacionalidade dos candidatos a jihadistas, endurecimento do nosso arsenal penal contra os crimes terroristas, expulsão dos imãs radicais, rutura das relações diplomáticas com os países que apoiam os fundamentalistas”, acrescentou.
Também a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, reagiu ao ataque afirmando estar “chocada” e assegurando que “a Europa está determinada na luta contra o terrorismo”. “As minhas condolências à família da vítima inocente deste trágico ataque. Desejo uma rápida recuperação aos corajosos agentes da polícia feridos no exercício das suas funções”, afirmou Roberta Metsola na rede social X.
O canal BFMTV indicou que, enquanto se aguarda a determinação das motivações para este acontecimento, a Procuradoria de Mulhouse está a trabalhar em conjunto com a Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT).