Juiz que prendeu arguido, por suposto homicídio tentado, manda agora libertá-lo. Alegada vítima também se terá cortado na barriga para incriminar ex-cunhado.
Corpo do artigo
Um homem, de 48 anos, passou 20 dias na cadeia, por ter sido acusado de tentar matar a ex-mulher, em Lordelo, Paredes. Mas, no final de maio, foi libertado, porque foram recolhidos, na investigação, indícios de que a alegada vítima, de 42 anos, teria simulado o crime. A mulher é suspeita, além disso, de ter auto-infligido um corte na barriga, já com o antigo companheiro em prisão preventiva, para incriminar o ex-cunhado.
O casal estava divorciado desde 2021, mas os problemas persistiam, a ponto de, em 7 de maio deste ano, a mulher ter acusado o ex-marido de tentativa de homicídio. No depoimento feito às autoridades, referiu que, pelas 6.30 horas, quando saía de casa para ir trabalhar, foi surpreendida por aquele junto à porta. O antigo companheiro, garantiu, tentou estrangulá-la com uma corda de aço e só não concretizou os intentos, porque foi obrigado a fugir quando ouviu a porta de um vizinho a abrir.
Perante esta denúncia, o homem, polidor profissional, foi detido no mesmo dia, interrogado no Tribunal de Penafiel e, em 8 de maio, posto em prisão preventiva. À data, o juiz de instrução criminal ficou convencido de que aquele planeara a morte da ex-mulher como forma de vingança e, se não o mandasse para a cadeia, ele podia continuar a atentar contra a vida daquela.
Já com o homem encarcerado na cadeia de Custoias, em Matosinhos, a alegada vítima queixou-se de mais uma tentativa de homicídio. Em 12 de maio, deu entrada no Hospital de Penafiel, acompanhada pela viatura médica de emergência e reanimação, com um corte na barriga, que disse ter sido feito pelo irmão do ex-marido. Na ocasião, explicou que este assegurou que ia matá-la. Nos dias anteriores, acrescentou, tinha recebido um bilhete com ameaças. E, na porta de sua casa, alguém tinha pichado a frase: “Vou-vos matar todas”.
Incongruências e dúvidas
O Núcleo de Investigação Criminal de Penafiel da GNR detetaria diversas incongruências no testemunho da mulher e apurou que os vestígios de sangue encontrados no local do eventual crime punham em causa a versão contada. Também as perícias ao ferimento da mulher apontaram para a possibilidade de este ter sido antoinfligido, e a hipotética vítima acabou por retirar a queixa contra o ex-cunhado.
Já a Polícia Judiciária detetou falhas na versão apresentada pela mulher relativamente à primeira alegada tentativa de homicídio e, depois de analisar as câmaras de videovigilância, nunca encontrou sinais da presença do suspeito no local onde o mesmo teria ocorrido. Também se suspeita que a mulher tenha enviado para si própria mensagens com ameaças de morte com o nome do ex-marido.
Perante a dúvida que se instalou, o mesmo juiz que o pusera em prisão preventiva libertou o suspeito em 28 de maio. Ainda assim, o polidor ficou proibido de contactar a ex-mulher, sem ter de usar pulseira eletrónica. Tanto ele como o irmão apresentaram queixa por denúncia caluniosa e falsidade de testemunho