O Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, votou esta segunda-feira a favor da censura do Executivo encabeçado pelo chanceler social-democrata Olaf Scholz, mais de um mês após o colapso da coligação de Governo. O resultado, já esperado, abre o caminho para eleições legislativas antecipadas para o início de 2025.
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Um total de 394 deputados aprovaram a queda do Governo, enquanto 207 votaram para manter o Executivo. Outros 116 legisladores abstiveram-se.
Após o voto de não confiança, o chanceler dirigiu-se ao Palácio de Bellevue para encontrar-se com o presidente Frank-Walter Steinmeier. Na reunião, Scholz apelou pela dissolução do Bundestag - pedido que o chefe de Estado pode analisar durante 21 dias. É esperado que, depois de conversações com os grupos parlamentares, Steinmeier anuncie a decisão após o Natal, com a expectativa de as eleições acontecerem a 23 de fevereiro, data acordada entre o Governo e a Oposição.
Chanceler faz críticas
“A política não é um jogo”, afirmou o chanceler, antes da derrocada. Scholz, citado pelo canal público Deutsche Welle, voltou a culpar o Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão) por “sabotar o próprio Governo”. A “coligação semáforo” ruiu em novembro, mas já tinha nascido com problemas em 2021: de um lado, o Partido Social-Democrata (SPD) e Os Verdes defendiam políticas sociais públicas e de proteção do clima, do outro, os liberais tinham como bandeira a austeridade do Estado e corte de impostos.
Com o Supremo Tribunal a proibir, em novembro de 2023, o uso de 60 mil milhões de euros para financiar políticas climáticas e energéticas, o fim da aliança era uma questão de tempo. Tal fundo, aprovado pelo Parlamento para lidar com os efeitos económicos da pandemia, era o que mantinha a união verde-amarela-vermelha.
Scholz aproveitou ainda para anunciar medidas para um eventual - e por enquanto improvável - segundo mandato. O chanceler prometeu, entre outras ações, aumentar o salário mínimo, diminuir o IVA para alimentos e argumentou por um investimento “massivo” na área da Defesa. O social-democrata não poupou críticas também para a União Democrata-Cristã (CDU), acusando os conservadores de terem planos económicos “injustos”.
CDU elogia liberais
Possível próximo chefe de Governo, o líder da CDU, Friedrich Merz, defendeu o ex-parceiro de coligação de Scholz, o FDP. O conservador criticou a forma com que o chanceler lidou com os liberais - estes elogiados por impedirem o aumento de impostos propostos pelo SPD e Os Verdes. “Trouxe vergonha à Alemanha”, frisou Merz ao social-democrata enquanto comentava a atuação do país na União Europeia nos últimos anos. Em declarações reproduzidas pelo jornal britânico “The Guardian”, o chefe da CDU caracterizou ontem como “um dia de alívio”.
Já Alice Weidel, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), reprovou a política migratória e defendeu o regresso “imediato” dos refugiados sírios. Widel disse ainda que Merz enviaria os mísseis Taurus para a Ucrânia, tornando a Alemanha um “alvo” para um ataque nuclear.
De acordo com o agregador de sondagens Europe Elects, a AfD aparece em segundo lugar (18%), atrás somente da CDU (32%), mas superando o SPD (16%) e Os Verdes (13%).