A direção do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra emitiu, esta quarta-feira, uma carta aberta em que repudia as "práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder" cometidas por investigadores da instituição. O centro admite "falhas institucionais".
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"A Direção do CES dirige-se às pessoas que se consideram vítimas de comportamentos de assédio ou abuso no contexto de atividades do CES, tenham ou não testemunhado perante a Comissão Independente, para apresentar um pedido de desculpas público pela experiência pela qual passaram, pelo sofrimento pessoal que daí terá resultado, e pelo silêncio que tiveram de enfrentar no seio do CES", lê-se na carta aberta, divulgada esta quarta-feira, após a divulgação da comissão independente criada para averiguar eventuais casos de assédio na instituição.
No relatório final, divulgado esta quarta-feira, lê-se que, dos documentos analisados e audições realizadas, a comissão independente conclui que existiram "padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES". Apesar dos especialistas, externos ao CES, não terem conseguido esclarecer "todas as situações comunicadas" à comissão independente, a direção do CES afirma que os "testemunhos foram validados".
"Se é certo que as situações reportadas resultaram de ações individuais, sobre as quais iremos agir, não deixam, também, de resultar de falhas institucionais que, na ausência de mecanismos adequados para a prevenção do assédio, permitiram condições para formas de abuso de poder", escrevem a direção e a presidência do conselho científico do CES. Os dois órgãos dizem estar "decididos" a tomar iniciativas para que haja consequências e que "más práticas" não se voltem a repetir no centro de investigação.
A direção do CES afirma querer ainda deixar claro que as denúncias se dirigem a "um número reduzido" de investigadores. "Queremos deixar claro que o CES está disponível para uma escuta ativa, para quem quiser ser ouvido e/ou procurar formas de reparação. A Direção e a Presidência do Conselho Científico estão disponíveis para serem contactadas neste âmbito, mantendo a Provedoria o seu canal próprio de comunicação, que obedece aos princípios de sigilo e confidencialidade", lê-se na carta aberta.
A comissão independente de esclarecimento de situações de assédio no CES foi criada há um ano após denúncias feitas por estudantes e investigadoras contra o sociológo e diretor emérito do centro, Boaventura Sousa Santos e o investigador Bruno Sena Martins. Lieselotte Viaene, Myie Tom e Catarina Laranjeiro foram as autoras de um capítulo do livro "Má Conduta Sexual na Academia", publicado pela editora Routledge, onde constavam denúncias contra os dois homens e relatavam um clima de assédio e intimidação no centro de investigação. Mais tarde, outras mulheres vieram publicamente dar o seu testemunho.