Mil dias de guerra e uma ameaça que se agiganta: por dentro do poderoso arsenal nuclear da Rússia
Brutal poderio russo ameaça segurança internacional, numa altura em que aumentam os temores em torno de recurso a armamento nuclear, a que Putin acaba de abrir a porta.
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Os mil dias de guerra na Ucrânia trouxeram a notícia que quase ninguém queria: o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto que alarga os critérios para a utilização de armas nucleares em resposta a um ataque inimigo, autorizando-a em caso de "agressão por qualquer Estado não nuclear, mas com a participação ou apoio de um país nuclear". A decisão, conhecida depois da notícia da luz verde da Casa Branca a Kiev para o uso de armas de longo alcance contra alvos russos, e que torna mais real uma ameaça que vem sendo feita por Putin nos últimos meses, abre caminho para o recurso às potentíssimas ogivas que constam do arsenal nuclear de Moscovo.
De acordo com a agência Reuters, a Rússia, herdeira das armas nucleares da União Soviética, tem a maior reserva de ogivas nucleares do Mundo, que lhe permitiria, em teoria, "destruir o mundo várias vezes" - durante a Guerra Fria, o bloco soviético teve um pico de cerca de 40 mil ogivas nucleares, enquanto o máximo dos EUA foi de cerca de 30 mil.
Segundo a "Arms Control Association", organização não-governamental norte-americana que apoia políticas de controlo de armas, e que agrega dados de várias entidades internacionais, os nove países do Mundo que têm armamento nuclear possuíam, em março deste ano, mais de 12 mil ogivas nucleares, no total. Quase 90% pertencem aos Estados Unidos e à Rússia, que terá atualmente 5580 ogivas nucleares, das quais 4380 estão ao serviço militar e as restantes 1200 estão inoperacionais a aguardar serem desmanteladas, estima a Federação de Cientistas Americanos (dados relativos a março deste ano).
Mais de 1500 implantadas em mísseis e bombardeiros
Entre as 4380 ogivas ativas no arsenal russo, 1549 estarão implantadas em 540 sistemas de lançamento estratégico (mísseis balísticos intercontinentais, mísseis balísticos lançados por submarinos e bombardeiros pesados) - são as chamadas ogivas estratégicas. Moscovo - que se comprometeu a cumprir, até 2026, as imposições centrais do tratado de armamento nuclear New Start, que limita cada país a 1550 ogivas estratégicas implantadas - tem ainda à disposição um menor número de ogivas nucleares não estratégicas (ou táticas), que são armas de menor alcance, não limitadas por qualquer tratado de controlo de armas. Embora, de acordo com a agência noticiosa Associated Press (AP), os Estados Unidos estimem que as forças russas tenham cerca de 1500 ogivas deste tipo, Moscovo não divulgou dados oficiais.
Ao contrário dos mísseis balísticos intercontinentais com ogivas nucleares, que podem destruir cidades inteiras, as armas táticas para uso contra tropas no campo de batalha são menos poderosas e de menor rendimento (cerca de mil toneladas, por exemplo) - a bomba nuclear lançada pelos EUA em Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial foi de cerca de 15 mil toneladas. Pelo seu tamanho mais pequeno, este tipo de arma nuclear - bombas aéreas, ogivas para mísseis de curto alcance ou munições de artilharia - pode ser transportada num avião ou camião.