Os hospitais preparam-se para um fim de semana de verdadeiro caos, o que levou o Santa Maria a lançar um aviso: só irá receber doentes referenciados por outros hospitais ou pelo CODU; os restantes serão reencaminhados de volta para casa ou para os centros de saúde.
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Em causa as mais de duas mil recusas às horas extras que estão a fechar vários serviços de urgência e a condicionar outros fortemente. Os sindicatos exigem uma resposta escrita do ministério da Saúde com propostas concretas. Negociações só deverão acontecer após o Fórum Médico que se reúne na quinta-feira em Coimbra.
A recusa de pelos menos duas mil médicos em fazer mais do que as 150 horas extraordinárias anuais está a encerrar e a condicionar fortemente vários serviços – como é o caso do Pedro Hispano, em Matosinhos, que suspendeu o apoio de cirurgia geral–, pressionando os maiores hospitais. O Santa Maria, em Lisboa, que na segunda-feira teve um pico de 700 doentes na urgência, ativou o Plano de Contingência e determinou que os doentes de fora da área não serão atendidos se não forem referenciados pelo CODU.
“Venho pedir que só venham à urgência os doentes que necessitem de cuidados urgentes e emergentes. Todos os doentes de áreas abrangidas por outros hospitais que não venham referenciados por esses hospitais ou pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] não serão atendidos neste hospital”, avisou João Gouveia , diretor do Serviço de Urgência, revelando que 10 especialistas de cirurgia geral e internos entregaram minutas. No Hospital Padre Américo, em Penafiel, 17 especialistas de medicina interna pediram recusa.
Para Vitória Martins, membro da comissão executiva da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), a situação do Santra Maria era inevitável e poderá acontecer com outros hospitais. “ Se começar a haver uma afluência e um número de doentes no serviço de urgência que exceda a capacidade das equipas que estão instituídas, poderá haver constrangimentos noutros hospitais para além daqueles onde as escalas já previam que encerrassem determinadas especialidades”, explicou ao JN.
Negociar é a única solução
Também Helena Terleira, representante do movimento Médicos em Luta, não prevê que o cenário melhore nos próximos dias. “A cada dia que passa há mais minutas e hospitais em risco de fechar. Mesmo nos hospitais que ainda existe especialidades, estamos a trabalhar com níveis abaixo dos que são recomendados pela Ordem dos Médicos. Esses hospitais, mesmo estando com porta aberta, não estão com capacidade para responder a todos os doentes que ocorram”, notou.
Ao JN, a médica afirmou que se acontecer alguma situação menos boa, a responsabilidade é “claramente do ministro e do primeiro-ministro” e alertou que a única forma de remediar o problema é “chamar os sindicatos para reunir. “No dia em que ele [ministro da Saúde]quiser negociar e, chegar a acordo com os sindicatos, nós paramos”.
O JN sabe que essas negociações deverão acontecer no início da próxima semana, depois do Fórum Médico, no dia 12, em Coimbra.