O calor intenso fora de época no Douro e em Trás-os-Montes, principalmente na primavera, prejudicou a produção de vinho e de azeite e trará más notícias aos agricultores na próxima colheita.
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Na Região Demarcada do Douro, a produção de vinho deverá recuar “cerca de 20%” em 2025 face à vindima do ano passado, que gerou 274 mil pipas (com 550 litros cada). A previsão foi avançada, ontem, pela Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense, que tem sede em Vila Real. Já a Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro não consegue estimar o impacto na produção de azeitona no próximo outono, mas Francisco Pavão não tem dúvidas de que haverá quebras nesta região.
Olhando para a vinha, o diretor-geral da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense, Luís Marcos, estima que a produção, com base no pólen capturado à floração, “apresenta, para este ano, valores que variam entre as 237 mil e as 267 mil pipas”. A previsão é que fique “abaixo do limite mínimo”, podendo sofrer uma redução de 20% em comparação com a produção de 2024. Para ser um ano de produção média, o volume da colheita teria de ficar “próximo do mínimo do intervalo”.
Menos cachos por videira
O responsável justifica que “o número de cachos por videira é inferior na generalidade das vinhas da região. O míldio e algum escaldão também interferiram, nomeadamente a doença, que teve impacto maior em toda a Região Demarcada do Douro, com mais incidência em “áreas da sub-região do Baixo Corgo e algumas zonas a cotas mais altas” de concelhos como “Sabrosa, Alijó e Vila Real”, áreas que terão “produções mais reduzidas”.
Luís Marcos destacou que o atual ano vitícola tem sido “um bocadinho atípico”. Começou por ter um inverno “bastante seco, mas quente”, que provocou um “atraso no ciclo vegetativo da videira”. Na primavera, choveu “mais do que o normal”, o que ajudou ao “desenvolvimento da planta”. Porém, “o aumento do volume de precipitação e as temperaturas elevadas sentidas no inverno” resultaram numa “floração atrasada em relação à média”. Antes e durante este ciclo, verificou-se “uma incidência muito grande” da doença de míldio, o que, inevitavelmente, terá impacto na produção de vinho
A Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense, com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, faz anualmente a estimativa da produção, com base no pólen capturado à floração, para a Região Demarcada do Douro. Este ano, as condições durante aquela época “foram boas”, o que fez com que houvesse mais pólen na atmosfera”, realça Luís Marcos.
Até à vindima, que deverá começar em finais de agosto, muita coisa poderá ainda acontecer. Neste momento, “as videiras estão em conforto hídrico”, complementou. Todavia, como pouco choveu desde junho, poderá vir a criar “situações de stress hídrico que podem ter impacto na produtividade, como também no potencial qualitativo” do vinho. As “temperaturas elevadas e a ausência de vento” também “poderão potenciar situações de escaldão” nas vinhas da região.
Floração nos olivais
O calor intenso também provocou danos na floração do olival nas zonas mais quentes de Trás-os-Montes e Alto Douro. Francisco Pavão, da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro admite que os dias de calor, sobretudo na primavera, estão associados às alterações climatéricas, “que cada vez mais têm repercussão na agricultura” e que aumentam de ano para ano.
Como a campanha de 2024 foi boa, das melhores de sempre em quantidade de azeite, Pavão reconhece que já se previa uma quebra ligeira na colheita deste ano. “Só que as temperaturas elevadas de maio e do início de junho, contribuíram para estragar a floração em alguns locais”.
Ainda é cedo para certezas. “A floração foi há muito pouco tempo e estamos a avaliar o desenvolvimento e os danos na cultura”, explica o dirigente associativo, destacando, contudo, que “a região precisa de apostar” em mais regadio público-coletivo e privado, para mitigar estes problemas. Apenas 10% do olival transmontano é regado (ler caixa).
Certo é que não existe um sistema de seguros de colheita que cubra este tipo de acidente climatérico. Os seguros só pagam quando o fruto está na árvore. Em caso de prejuízos durante a floração, não há compensação pelas seguradoras e o prejuízo fica todo no bolso dos agricultores. “Os agricultores precisam de ter uma rentabilidade garantida”, conclui Francisco Pavão.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o mês de maio foi mais quente e seco do que o habitual. O valor médio da temperatura máxima do ar, 23,54 °C, fez com que fosse o 11.° maio mais quente desde 2000.