Um “improvável” namoro entre Braga e Guimarães vai fazer renascer o Pacha Ofir, encerrado há sete anos, em Esposende. O grupo de empresários minhotos reconhece a responsabilidade em reabrir a lendária discoteca, mas garante que o novo espaço vai marcar a diferença. O UPS inaugura no próximo sábado, 5 de julho.
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O som das rebarbadoras e das máquinas de soldar marcam o ritmo. Em cima do bar, baldes de tinta de cor terracota, quase vazios, libertam um cheiro persistente, que se mistura com o do ferro acabado de cortar. Empoeiradas, as bolas de espelhos repousam no chão, sob os robôs de luz ainda embalados. E em cima dos andaimes, uma dúzia de trabalhadores empenha-se para montar o ambicioso teto, que terá sete quilómetros de fita led. É o contrarrelógio final para a reabertura do Pacha Ofir.
Mergulhada no pinhal do município de Esposende, com o mar aos pés, a lendária discoteca inaugurada em agosto de 1992 reabre portas no próximo sábado, como UPS Ofir, pela mão de cinco minhotos que querem voltar a pôr a região no mapa da diversão noturna. "Já trabalhámos em parceria em alguns eventos e nestes últimos dois anos aproximámos-nos porque achávamos que fazia sentido termos um projeto de verão de duas cidades diferentes. Cada vez mais, sentimos que a absorção dos clientes do Norte está a ser forte. Ou seja, as pessoas estão a deixar de ir para o Algarve para se divertirem e consomem espaços noturnos no verão", justifica Nuno Pontes, bracarense de 38 anos, experiente empresário no ramo. Com o sócio, encetou o "namoro" com outra sociedade de três empresários de Guimarães, já há mais de uma década, e depois de vários projetos em conjunto, surgiu a oportunidade de fazer renascer a casa.
Desde o anúncio nas redes sociais - estrategicamente no dia de Páscoa, para aproveitar as reuniões familiares -, não param de "chover" mensagens. A expectativa elevada traz o peso da responsabilidade e a inevitável comparação com a discoteca onde atuaram os melhores DJ’s do Mundo. "É de facto uma casa lendária que apanhou várias gerações. Toda a gente vai querer vir, pelo menos para ver o que vamos fazer", afiança Pontes.
Respeitar o passado de olhos postos no futuro
Em homenagem ao legado de José Manuel Vieira, o "homem audaz" que abriu o Pacha há 30 anos e que "pôs Ofir no mapa" da diversão noturna nacional e internacional, os novos patrões vão manter o par de cerejas, símbolo incontornável da marca mundial, na reta que dá acesso ao clube noturno e no chão da entrada. De resto, o enorme espaço de 95 mil metros quadrados foi transformado para responder às novas exigências do mercado e contará com dois espaços de dança (interior e exterior) e um restaurante.
"A maioria dos clubes está a fechar e nós estamos a abrir. Queremos dar algo mais porque os eventos esporádicos têm cada vez mais força. As pessoas valorizam um bom ‘show’ de luzes, uma boa performance, algo mais do que o tradicional da noite", explica Pedro Lobo, empresário vimaranense de 35 anos. "Foi o maior Pacha do Mundo e isso traz-nos muita responsabilidade, mas também nos dá uma vontade muito grande de marcar o país com a marca UPS. Queremos fazer algo diferente, em que as pessoas saiam daqui a dizer que valeu a pena e que querem voltar", reforça.
Dar conforto aos clientes é o principal foco do UPS Ofir, que terá uma capacidade mais reduzida do que o seu antecessor - de cerca de 10 mil pessoas passará para 3800 - e vai adaptar-se à lotação de cada noite, abrindo setores de acordo com a necessidade. Uma das novidades será o enorme teto de 1500 metros quadrados na sala principal, criado para proporcionar uma experiência imersiva ao público. "É tudo mapeável, ponto a ponto, de 10 em 10 centímetros. Dá-nos flexibilidade para fazermos o que quisermos, desde um céu estrelado a um mar azul, para dar a sensação às pessoas da amplitude da casa", explica Pedro Lobo.
Aposta reforçada no próximo ano
Ainda que tenham encontrado o espaço bem preservado e aproveitado quase todas as infraestruturas fixas e o sistema de som, os cinco sócios investiram cerca de meio milhão de euros na requalificação. O UPS vai funcionar durante os meses de verão e em épocas festivas, como o Halloween, passagem de ano e Carnaval, e contará com uma equipa composta por 75 elementos, além das centenas de pessoas associadas à promoção que estarão distribuídas pelo território, com especial força na zona Norte.
Para o ano, a meta é crescer em número de áreas e aproveitar o potencial do terreno e das infraestruturas existentes. "Se fizermos uma corrida de sucesso, e estamos a trabalhar para isso, vai haver pessoas a unirem-se a nós. O nosso objetivo é abrir mais áreas para o ano, principalmente na restauração, porque são setores que estão cada vez mais unidos. As pessoas depois de jantar não gostam de pegar no carro porque já estão confortáveis", refere Nuno Pontes.
Para já, as atenções estão centradas no dia 5 de julho. "Temos consciência de que na abertura, pelo facto de ter sido uma casa que trabalhava com 10 mil pessoas, vamos ter muita gente ali à porta. Vai ser uma confusão", sorri o bracarense, referindo que são precisamente os "sorrisos" que quer ver no público. "Sentimos que vai marcar gerações e isso é bom. Porque somos aqui do Norte, já somos conhecidos nas nossas cidades e é bom as pessoas darem-nos valor e dizerem que gostam das nossas casas. Nós gostamos de ver sorrisos nos nossos clientes e acho que vamos conseguir", conclui.