Pessegueiro diz que 50 quilos de bife eram mesmo carnes e não código para dinheiro
Francisco Pessegueiro negou, esta tarde, na primeira sessão do julgamento da Operação Vórtex, em Espinho, ter entregado 50 mil euros ao ex-autarca Pinto Moreira num café em São Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia, e garantiu que o pedido a Malafaia de 50 quilogramas de bifes era mesmo conversa sobre “bifes e carne”.
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A procuradora do MP referira que, numa conversa telefónica no dia seguinte à aprovação do projeto Urban 32 - aprovação feita em menos de um mês, precisou -, o promotor imobiliário Paulo Malafaia lhe perguntou “ 'quanto queres em bifes?' e o senhor diz 50 quilogramas. E no dia seguinte marca um encontro com Pinto Moreira”. “Eram mesmo bifes e carnes”, assegurou Pessegueiro, cuja família é proprietária de uma cadeia de talhos com o mesmo nome.
Ao contrário do que referira no interrogatório judicial, o empresário afirmou que contou ao arquiteto João Rocha da solicitação de Pinto Moreira, para que lhe fossem entregues 50 mil euros, de forma a agilizar o licenciamento de obras em Espinho. “Contei porque fiquei atónito. Depois disseram-me que era normal. Partilhei os pedidos de ambos os presidentes, tenho a certezal”, reforçou.
Pessegueiro explicou que as “démarches” prometidas pelo ex-autarca seriam “no sentido de movimentar, agilizar os processos, no sentido de eles não ficarem na gaveta. Não seria nada de ilícito”.
O juiz Carlos Azevedo questionou Pessegueiro sobre se, após a aprovação dos projetos, Pinto Monteiro alguma vez lhe pediu o dinheiro prometido. “Não. Eles foram aprovados, mas não foram vendidos”, justificou.
O empresário revelou ainda que, já após o término do mandato autárquico, contactou Pinto Moreira por causa de um projeto que estava parado há um ano. “Perguntei se podia ajudar de alguma maneira”. "E ele fez contactos?", questionou o juiz. “Não faço ideia. Ele dizia que sim”.
Pinto Moreira "pediu 50 mil euros"
Na parte da manhã, quando inquirido pelo juiz, Francisco Pessegueiro garantiu que não foi entregue qualquer valor a Pinto Moreira, apesar de lhe terem sido pedidos 50 mil euros.
"Depois de uma reunião, Pinto Moreira disse que gostava de tomar um café comigo. Estavam em discussão três projetos, o hotel, o lar e o hospital. Foi-me dito por Pinto Moreira que, pelas suas demarches políticas, seriam necessários 25 mil para o lar e 25 mil para o hospital. Para o hotel, não conseguia quantificar porque era muito problemático por causa da zona onde estava inserido", explicou o empresário.
Pessegueiro fez mesmo uma analogia com alguém assaltar a sua casa e apontar uma arma às suas filhas, dizendo "dá-me tudo o que tens". "Senti-me sem alternativas e tive medo que os projetos ficassem enfiados numa gaveta", afirmou em tribunal.
À saída da sessão, Pinto Moreira recusou a tese do empresário, voltou a dizer que nunca pediu dinheiro a ninguém e sublinhou uma alteração nas declarações de Pessegueiro. "Francisco Pessegueiro disse numa primeira instância que me tinha entregue dinheiro e agora diz que não me entregou dinheiro nenhum. É esta a sua coerência".
A sessão do julgamento terminou por hoje e é retomada sexta-feira de manhã.
Operação Vórtex
Começaram a ser julgados esta quinta-feira no Tribunal de Espinho os ex-presidentes da Câmara Miguel Reis e Pinto Moreira e os empresários Francisco Pessegueiro, João Rodrigues e Paulo Malafaia. No âmbito da Operação Vórtex, foram ainda acusados mais três arguidos que, na altura dos factos, desempenhavam as funções de chefe de divisão na autarquia e cinco empresas.
Em causa estão crimes relacionados com "projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos”.
A acusação sustenta que os autarcas e funcionários municipais terão recebido elevadas quantias de dinheiro por parte dos empresários para garantir o favorecimento de empreendimentos imobiliários na cidade de Espinho.