Ator Carloto Cotta acusado de violar e sequestrar mulher: "Não me enerves, eu mato-te"
Carloto Cotta é acusado pelo Ministério Público de ter sequestrado, violado e agredido uma mulher, em maio de 2023. O ator diz que as acusações são “exacerbadas e fantasiosas”, mas o Ministério Público desvalorizou as suas declarações, dando total credibilidade aos depoimentos da queixosa.
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Carloto Cotta, conhecido por vários papéis no cinema, teatro e telenovelas. foi acusado pelo Ministério Público de ter violado, sequestrado, agredido, ameaçado e injuriado uma mulher que terá alegadamente mantido presa durante mais de 24 horas numa casa em Colares, Sintra, avança o jornal "Expresso", que teve acesso ao despacho da acusação.
O inspetor da Polícia Judiciária que investigou a queixa da vítima, uma mulher de cerca de 40 anos, considerou que as diligências feitas durante a fase de inquérito "não permitiram carrear para os autos informação ou verificação de crime contra a liberdade sexual” da queixosa. Mas a procuradora Marleen Cooreman, do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Sintra, considerou haver indícios suficientes para julgar o ator português, de 41 anos, por violação, importunação e coação sexuais, sequestro, ameaça agravada, injúrias e ofensas à integridade física. Ao todo, Carloto Cotta está acusado de nove crimes.
Mostrou preservativo XL e exibiu genitais
Segundo a acusação, o ator do filme "Diamantino" conheceu a queixosa em janeiro de 2023, numa livraria do CascaiShopping. De acordo com o jornal "Expresso", que cita o despacho da acusação, os dois falaram de poesia, trocaram mensagens pelas redes sociais e, em maio do mesmo ano, Carloto Cotta “convidou a mulher para um passeio em Colares”, onde vive com os cães. No dia 3 desse mês, descreve o Ministério Público, a mulher foi convidada a fazer uma visita pela vivenda do ator, tendo ambos depois seguido para o quarto. Aí, Cotta “mostrou um preservativo XL” e “exibiu os órgãos genitais” à vítima, que fugiu para o piso de baixo e disse que “estava com uma hemorragia e que pretendia ir embora”. Acabou por aceitar beber o gin que tinha trazido.
Depois, a mulher voltou a insistir que queria ir embora. Mas, lê-se na acusação, a porta da casa estava trancada e Cotta disse-lhe "que não podia ir embora" porque "estava com tensão sexual e que ela tinha de o servir de qualquer maneira”. Depois, “com o uso de força física, agarrou-a por um braço, deitou-a num sofá da sala e colocou o seu corpo por cima do dela, com o que a imobilizou”. Masturbou-se para cima da vítima e obrigou-a a fazer-lhe sexo oral, acredita o Ministério Público.
As perícias realizadas à roupa que a vítima usava nesse dia revelaram que havia sémen do acusado no tecido. Quando foi interrogado pela PJ, Carloto Cotta alegou que manteve relações sexuais consentidas, considerando as acusações “exacerbadas e fantasiosas”. Confirmou que fechou a porta da casa à chave, mas argumentando que, se não o fizesse, “os cães conseguiriam entrar”.
De acordo com o Ministério Público, depois da violação, o arguido manteve a queixosa “ao pé de si a ouvi-lo citar poesia até de manhã”, tirou-lhe o telemóvel e acedeu à sua aplicação bancária, exigindo que a vítima pagasse uma “dívida a traficantes de droga” que o ator teria, e ameaçou a vítima e os filhos “de morte”.
Depois, lê-se na acusação, Cotta terá arrastado a vítima para a casa de banho, para que esta “declamasse poesia” enquanto ele tomava banho. Perante a recusa da mulher, o ator disse que ia à cozinha buscar uma faca e que “a cortava em pedaços e a dava de comer aos cães, como já fizera com outras”.
A queixosa acabou por conseguir escapar e saltar pela janela do primeiro andar da moradia, pedindo ajuda a dois homens que estavam na rua e que chamaram a GNR. De acordo com o "Expresso", as duas testemunhas “repararam numa senhora a sair a correr, aflita, aos gritos: ‘Ajudem-me, fui sequestrada e violada’”. O suspeito, “que já conheciam”, saiu de casa “ainda em tronco nu” e “calmo”, dizendo que a mulher tinha tomado “uns ácidos” e que lhe tinha dado “umas palmadas” porque ela tinha pedido.
A vítima apresentou queixa na GNR no mesmo dia, omitindo nessa altura ter sido violada, mas, horas depois, no Hospital da Amadora, relatou ter sido vítima de “violência sexual”, afirmando o mesmo à PJ. Explicou que não falou da violação na GNR por não se sentir à vontade e por estar “fragilizada devido aos recentes acontecimentos”.
O relatório do hospital descreve a vítima como “agitada” e com um “pequeno hematoma occipital à direita”, ou seja, uma nódoa negra na parte de trás da cabeça. O documento menciona também “equimose e arranhões no antebraço direito”, sem alterações visíveis na face e no pescoço.
Ouvido primeiro pela GNR, Carloto Cotta começou por negar as agressões e qualquer tipo de atividade sexual, mas quando foi ouvido e constituído arguido pela Polícia Judiciária, admitiu um “envolvimento sexual” consentido e atribuiu as queixas da mulher à “frustração” que esta terá sentido por ele se recusar a conhecer os seus filhos ou a deixá-la acompanhá-lo a um “evento social”.
A procuradora do DIAP de Sintra desvalorizou as declarações do ator e deu total credibilidade ao depoimento da queixosa.
Além dos nove crimes de que está acusado pelo Ministério Público, o ator responde ainda a uma acusação particular de cinco crimes de injúria. A advogada da vítima, Cristina Borges de Pinho, pediu uma indemnização de 43.500 mil euros por danos não patrimoniais e 1500 euros por danos patrimoniais. No pedido, justifica-se que, desde os alegados factos, a vítima “tem dificuldade em conciliar o sono, tendo tido frequentes insónias e crises de pânico e ansiedade que ainda persistem”.