As projeções dão uma vitória esmagadora a Vladimir Putin, nas eleições presidenciais da Rússia. Os resultados da votação de três dias – que também decorreu nas regiões ucranianas anexadas – representam um recorde para o líder, mas não são reconhecidos pela Ucrânia nem pelo Ocidente.
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O resultado - ainda não definitivo - é recorde: Vladimir Putin obteve quase 88% dos votos nas eleições presidenciais da Rússia - o valor mais alto da história pós-soviética do país -, de acordo com as projeções, avançadas pelo Centro Russo de Pesquisa de Opinião Pública. Com metade das mesas contadas, e sem surpresas, tudo indica que o presidente russo se consolide no poder.
Putin, que subiu ao poder em 1999, acaba de conquistar por larga maioria um novo mandato de seis anos que, a ser cumprido, lhe permitirá ultrapassar Josef Stalin e tornar-se no líder mais antigo da Rússia em mais de 200 anos, escreve o "The Guardian". Por oposição a Putin, estavam também na corrida às presidenciais três candidatos de partidos.
Os três adversários em jogo – todos eles aliados do Kremlin – captaram, cada um, menos de 4% dos votos. O comunista Nikolai Kharitonov obteve, segundo os resultados avançados até ao fecho desta edição, 3,95% dos sufrágios, Vladislav Davankov teve 3,81% e, por último, Leonid Slutsky contabilizou 3%, abrindo caminho ao quinto mandato de Putin, que o coloca no poder por mais seis anos ou, talvez, até 2036, já que o líder alterou a Constituição para permitir a reeleição.
Quando as urnas foram encerradas, às 18 horas locais deste domingo (21 horas em Portugal continental), a participação nacional era, de acordo com as autoridades russas, de 74,22%, superando os 67,5% observados em 2018.
Maior participação eleitoral
O dia de hoje ficou marcado por vários protestos simbólicos anti-Putin, em que participaram vários milhares de oponentes no país e um pouco por todo o Mundo. Num escrutínio que ficou ensombrado por múltiplos ataques armados e informáticos, foram muitas as vozes que ecoaram a favor de uma mudança. Quem o tentou fazer dentro das fronteiras acabou por ser detido e poderá ver-se a braços com a Justiça: de acordo a OVD-Info, organização que monitoriza a repressão, pelo menos 74 pessoas foram presas durante o dia de hoje. Segundo a Reuters, uma mulher foi presa em São Petersburgo depois de atirar uma bomba incendiária para uma urna, naquele que foi um dos vários desacatos que, apesar do controlo rigoroso, ocorreram em assembleias de voto.
Eleições ilegítimas, acusam opositores
Em reação aos primeiros resultados oficiais, o presidente ucraniano e crítico ativo de Putin, Volodymyr Zelensky, disse não haver legitimidade nestas "eleições de faz de conta", voltando a sublinhar que Putin se quer eternizar no poder. “O ditador russo está a simular outra eleição”, disse o chefe de Estado ucraniano, numa comunicação ao país ao início da noite (hora local), acusando Putin de estar "doente de poder e a fazer de tudo para governar para sempre”. "Esta pessoa deveria ser julgada em Haia. É isso que temos de garantir", acrescentou, referindo-se ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas.
Do lado norte-americano, a Casa Branca reiterou que o ato eleitoral não foi "obviamente livre nem justo", dada a forma como o presidente russo garantiu o afastamento de adversários que discordassem das políticas de Moscovo. Posição semelhante foi partilhada pelo Reino Unido: na rede social X, o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico tocou noutro ponto, ao frisar que “ao realizar eleições ilegais no território ucraniano, a Rússia demonstra que não está interessada na paz”. Também a diplomacia alemã usou a plataforma para reagir, descrevendo o ato eleitoral como “pseudoeleições”. Da Polónia, também surgiu uma mensagem de desagrado. “A votação ocorreu em condições de repressão”, assinalou o primeiro-ministro Donald Tusk.