Alimentos ultraprocessados aumentam risco de doenças cardiovasculares e mentais
O consumo de alimentos processados aumenta diretamente o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e ansiedade, mas também de morte precoce. A conclusão é de um estudo publicado, esta quarta-feira, no "British Medical Journal" que analisou dados de quase dez milhões de pessoas de todo o mundo
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O consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver 32 patologias como doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 2, doenças mentais, cancro e mortalidade precoce. Segundo o estudo "Exposição a alimentos ultraprocessados e resultados adversos à saúde: revisão abrangente de meta-análises epidemiológicas", as evidências mais fortes dizem respeito a doenças cardiovasculares, cujo risco dispara para os 50%.
Já o risco de desenvolver ansiedade e outras doenças mentais, como depressão, é de 48 a 53% e de 12% na incidência de diabetes tipo 2. Foram ainda encontradas ligações a problemas gastrointestinais, alguns cancros, colesterol e asma, mas menos evidentes.
A partir de uma revisão abrangente de vários artigos científicos - publicados nos últimos três anos e que abrangem um universo de quase dez milhões de partipantes através de questionários - os investigadores estimaram o risco do consumo de alimentos ultraprocessados e classificaram a ligação a diversos problemas de saúde como convicentes, altamente sugestivas, fracas ou sem evidência.
Risco de mortalidade precoce é 21% mais elevado
Quanto ao risco de mortalidade precoce, é 21% mais elevado para quem consome este tipo de alimentos. O risco aumenta para 40 a 66% no caso de pessoas com doenças cardíacas, obesidade, diabetes tipo 2 e problemas de sono e 22% em casos de pessoas com depressão.
Os autores notam que o rápido crescimento da venda de alimentos ultraprocessados - como cereias, barras de proteínas, refrigerantes, refeições pré-cozinhadas e 'fast food' - indica uma mudança para uma dieta global cada vez mais ultraprocessada. A título de exemplo, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América (EUA), mais de metade da dieta média é composta por alimentos processados. Para as camadas jovens e mais pobres da população, é comum que este tipo de alimentos represente 80% da sua dieta.
Os alimentos ultraprocessados passam por vários processos industriais que usam substâncias ou aditivos químicos para melhorar sabor, textura, aparência e durabilidade. Estes alimentos acabam por ser nutricionalmente mais pobres, com níveis mais elevados de açúcares, gordura saturada e sal adicionados, mas também deficitários em vitaminas e fibras. Contribuem, assim, para o aumento da ingestão de energia e ganho de peso.
De acordo com os investigadores, este estudo é o primeiro que fornece uma avaliação ampla da ligação entre uma alimentação ultraprocessada e problemas de saúde. Foi desenvolvido por uma equipa de 14 investigadores de instituições de referência como a Escola de Sáude Pública Johns Hopkins, nos Estados Unidos da América, a Escola de Saúde Pública da Universidade de Sidney, na Austrália, a Universidade Sorbonne, em França, e a Escola de Biotecnologia da Universidade de Dublin, na Irlanda. No entanto, os investigadores reconhecem várias limitações à investigação, como o facto de poderem existir outros fatores que não foram medidos.
Embora a ligação entre os padrões alimentares ultraprocessados e problemas de saúde e morte precoce requeira mais pesquisas, os investigadores defendem que os resultados são uma "justificativa" para criar e avaliar a eficácia de novas medidas de saúde pública dirigidas às populações com vista a reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados.